Em pouco tempo, as festas GHE20G0TH1K [lê-se GhettoGothic] tornaram-se uma referência incontornável na movida Nova Iorquina e no imaginário global de quem busca novos sons e novas formas de expressão. De pequenos armazéns, incógnitos para a maioria, a clubes de maior dimensão, a cultura bass encontrou aqui um ponto convergência com géneros variados como rap, house, salsa ou zouk. Uma fusão musical – e experiência visual, reforçada pelos suportes de vídeo – que exprime a multiculturalidade do melting pot próprio da cidade, apelando à liberdade sexual, à consciência política e, obviamente, à mais pura celebração. Movidas por uma atitude punk do ‘fazer acontecer’, a frescura conceptual destas festas e o seu natural reconhecimento por publicações como o New York Times, a Village Voice ou Fader tornaram-nas simplesmente lendárias. Michael Stipe, A$AP Rocky, M.I.A e uma série de ilustres ligados ao mundo do cinema ou da moda têm sido alguns dos seus frequentadores assíduos. Na génese destes eventos (e de toda a comunidade que gerou) encontra-se a jovem Jazmin Venus Soto, senhora Venus X. Agitadora nata e alquimista pop por convicção, é fácil perceber porque estamos perante uma das mais entusiasmantes DJ da atualidade; as razões passam essencialmente pela ousadia estética, pela mestria e bom gosto ou ainda pela técnica (por vezes, policamente errada/genialmente iluminada) como mistura cada género. Um estilo desenvolvido por si, muito próximo de statement pessoal, e saudavelmente longe do produto neo-exótico descartável. Concentrada na criação de um espaço mental híbrido, recorre frequentemente a samples do canal Al Jazeera e vídeos encontrados pelo Youtube numa ligação umbilical com a realidade em que a música acaba por assumir o papel de veículo para as suas observações. De resto, Venus X deposita em cada set magia suficiente para acreditar tratar-se de um terreno ainda de ninguém, senão dela. Feito que justificou um arrojado convite dos agentes de Shakira para recomendações musicais mais radicais e um roubo de propriedade intelectual por Diplo, que lhe valeu a posição de beef do ano. Num momento de intensa e merecida atenção em seu redor, a DJ mantém-se confortável no circuito que a viu nascer, indo em direcções opostas às expectativas e fazendo o que mais gosta: baralhar a lógica do jogo. Diga-se, com a honestidade necessária nestas coisas, que a indiferença perante o seu trabalho não é de todo uma escolha, é antes uma inevitabilidade. Lisboa fará parte desta história recente e testemunhará a estreia de Venus X por terras lusas. Voodoo de Primavera, o melhor possível, cuja presença é mais que-obrigatória. Para que não se passe ao lado da explosão de tamanho talento. Até porque sobram poucas (nenhumas?) razões para isso. NA
