Não andaremos longe da verdade se afirmarmos que a Poesia Experimental foi o único momento do século XX em que se conseguiu inverter o crónico epigonismo português face às práticas artísticas internacionais. Este facto era da maior relevância cultural para o nosso país e fizemo-lo saber de forma contundente: em carta de 1962 ao suplemento literário do jornal Times, E. M. de Melo e Castro anunciava aos leitores que, ao contrário do que aquele jornal havia sugerido, as experiências ligadas à poesia visual não eram invenção anglo-saxónica — havia em Portugal e no Brasil quem se dedicasse à exploração da página como campo performativo e do signo como agente primeiro dessa performatividade, pelo menos desde meados dos anos 1950. A importância que a posição portuguesa granjeou no contexto da poesia visual ultrapassa o seu significado nas áreas estritas das artes visuais e da poesia. Ela sublinha a absoluta sintonia de um conjunto de autores nacionais com a abrangente revolução cultural que instalou a semiótica e o estruturalismo no centro dos debates culturais em ambas os lados do Atlântico. Contemporânea (e, por vezes mesma, precursora) das artes pop e conceptual, da performance e do happening, da interdisciplinaridade, do impulso no sentido da desmaterialização do objecto artístico e da generalizada contestação face à crescente mercantilização da obra de arte, a Poesia Experimental foi parte activa da efervescência intelectual saída dos escombros da Segunda Guerra Mundial.
A exposição que a ZDB agora apresenta permite acompanhar alguns dos momentos-chave deste particular fenómeno. Centrado na produção nacional, mas fazendo relevantes incursões a autores de outras geografias, a exposição desenha um retrato cronológico da Poesia Experimental. Das primeiras e inovadoras experiências de José-Alberto Marques, Ana Hatherly ou Melo e Castro no final dos anos 1950, passando pelos anos da afirmação crítica e cultural de toda a década seguinte, e chegando ao reconhecimento verificado nos anos de 1970, esta exposição reúne cerca de centena e meia de peças – entre obras, documentos, filmes e publicações – cuja reunião constitui uma oportunidade rara de mergulhar num dos mais significativos fenómenos artísticos portugueses das últimas décadas.
Fora da exposição, numa sala contígua, um conjunto de obras recentes homenageiam a PO-EX: Alexandre Estrela, António Poppe, Calhau!, João Maria Gusmão e Pedro Paiva, João Simões, Manuela Pacheco, Pato Bravo, Sei Miguel e Tomás Cunha Ferreira.