No seguimento das anteriores investigações desenvolvidas a propósito das exposições Radiação Solar e Forças Cósmicas e Putting Fear in its Place, Alexandre Estrela restabelece bases de aproximação ao comportamento das imagens e da sua percepção.
A procura da resistência das imagens ao movimento, a atribuição e reconhecimento de qualidades físicas à sua representação, a autonomia das imagens e das ilusões perceptivas, … são tomadas por base nos estudos experimentais desenvolvidos por Alexandre Estrela no atelier, questões agora transferidas ao espaço exterior.
A exposição individual de Alexandre Estrela VIAGEM AO MEIO é o resultado de um projecto realizado ao longo de dois anos de pesquisa mediante diversas residências nacionais e internacionais partilhadas com Natxo Checa, com produção da Galeria Zé dos Bois.
VIAGEM AO MEIO é composta por uma selecção de obras resultante da recente pesquisa acerca da ideia de centro e os seus desvios.
Apesar do projecto ter sido desenvolvido ao longo de diversas residências de criação, a presente exposição foca-se essencialmente em dois pólos: Ilha de S. Miguel nos Açores e Timor.
1º Andar
Le Moiret
Projecção de um pequeno vídeo sobre um vidro preparado. O vidro filtra e divide a imagem que ao ser projectada num canto cria efeitos ópticos de Moiret.
A projecção num canto axonométrico confere não só uma estrutura física á imagem bem como um centro espacial.
2010,vídeo projecção DVD PAL, cor, vidro 1m x 70cm, som mono, 1’38”, loop.
Teia
Filmagem casual de uma pequena teia de aranha em torno de um bambu. A teia aparece e desaparece numa transição natural provocada pela passagem de uma nuvem em frente ao Sol.
2010, monitor, CRT, p&b, som estéreo, 18”, back and forward.
Hydra
Visualização do espectro audível através de um ensaio de hidrodinâmica em torno de um centro vazio.
Cada linha representa uma frequência pura que avança no espaço a velocidade e intensidade variável. O centro obriga a um desvio que é sentido pela alteração das frequências.
2010, Vídeo projecção DVD PAL, p&b, som estéreo, endless loop, ecrã dimensões variáveis.
2º Andar
Flauta
Criação de uma imagem tridimensional por um processo estereoscópico resultante da alternância de duas imagens. O som grave do vento anima o vazio de um buraco inserido no ecrã. O posicionamento do buraco reforça um lado físico e concreto da imagem. A imagem concretiza-se num objecto musical accionado pelo som de vento, uma flauta eólica.
2010, Vídeo projecção HD, cor, som mono, endless loop, dimensões variáveis.
Viagem ao Meio
A peça ‘VIAGEM AO MEIO’ consiste num filme sem uso de câmara, executado pelo acto de desenrolar uma bobine de película de 16mm não exposta, percorrendo o interior do túnel do vulcão – desde o centro até à periferia.
O túnel funciona como uma câmara escura. O filme é sobreexposto à entrada do túnel e marcado pela luz. Quanto mais o filme penetra no vulcão, menos luz captura. No centro, a luz esvanece deixando o filme por expor. O resultado é um longo ‘fade’ que progride do preto cerrado para o branco imaculado.
Entretanto, a mesma viagem foi registada com uma câmara de vídeo, seguindo o rasto do filme. O resultado final apresenta o oposto: no vídeo a luz aparece no início, gravada na entrada. Quanto mais o vídeo avança, mais escuro se torna.
Tanto o filme quanto o vídeo são projectados sobrepostos num mesmo ecrã.
As pontas sobreexpostas do filme permitem que o vídeo seja visto, mas à medida que a narrativa evolui, a luz ténue torna-se progressivamente mais presente, apagando a imagem do vídeo. No centro, a imagem do vídeo dilui-se na luz brilhante do filme, deixando-o com o seu som.
Como o título sugere, ‘VIAGEM AO MEIO’ é uma meia travessia ao centro, mas é também um cruzamento profano entre o filme e o vídeo, enquanto meios, mas acima de tudo, a profanação de um vulcão.
2010, projecção 700m película 16mm, vídeo projecção PAL, cor, 120’, som estéreo