Contado já com largos anos de actividade e expressão pura, Victor Herrero é um daqueles nomes cujo trabalho à guitarra é já há muito reconhecido mas ainda assim parece algo afastado da luz mediática que encandeia alguns dos seus pares. Numa relação simbiótica com Josephine Foster, gravou com ela numa discrição soberba os álbuns “This Coming Gladness”, “Blood Rushing” e “I’m a Dreamer” para se dar a mostrar de forma mais afirmativa em “Anda Jaleo”, disco lançado em 2010 na mítica Fire Record onde a sua banda se juntou a Foster para reinterpertar com a devoção e respeito que estas coisas merecem, canções tradicionais espanholas de Garcia Lorca.
Estudioso apaixonado de inúmeras tradições, desde que foi introduzido durante a sua estadia no mosteiro de El Vale de Los Caídos nos arredores de Madrid ao canto litúrgico ainda na infância, Herrero cruza na guitarra clássica o legado da música andaluz com inflexões da folk contemporânea que tanto se revelam em instrumentais de um lirismo profundo em “Anacoreta” como nas canções delicadas de “Estampida”. Música imbuída na poeira ancestral dos dias, plena de sensibilidade e avessa a virtuosismos vazios, naquela esfera platónica dos espíritos verdadeiramente singulares.
Guiado por uma sede de descoberta de novas ligações entre fantasmas e realidades, Herrero tem vindo a criar uma panorâmica onde se descobrem novas teias através de colaborações com inúmeros músicos como Michael Gira, Keiji Haino, Master Musicians of Joujouka ou o nosso Norberto Lobo – músico que numa dimensão também só sua partilha de um mindset de igual fascínio. E é nesse mesmo contínuo de exploração dedicada que Herrero nos visita agora para apresentar “Astrolabio”, disco gravado à guitarra portuguesa, numa abordagem tão lúcida quanto devota a um instrumento imenso. BS