Depois do reconhecimento fulgurante dos Thee Oh Sees e Ty Segall, chega a vez de White Fence. Remata-se assim uma jornada que trouxe a esta cidade um dos universos musicais mais vibrantes da Costa Oeste dos Estados Unidos.
White Fence é um grupo de rock e, em simultâneo, um veículo para o universo plural e multicolorido de Tim Presley. Californiano de gema, passou pelos Darker My Love e os The Nerve Agents, colaborou com Ty Segall no álbum Hair, tocou com os The Fall e em 2012, seguindo os passos de um amigo (John Dwyer, dos Thee Oh Sees) fundou a Birth Records.
É uma figura destacada da cena de Bay Area, um instigador de gestos, objectos, tendências e um conhecedor profundo da história da pop. Acrescente-se-lhe uma faculdade que se vai tornando rara: o gosto. Presley sabe ouvir, como demonstrou quando deu a conhecer ao mundo a música de Jessica Pratt; foi ele quem lançou, em 2012, na sua editora, o primeiro e homónimo LP da artista. Mas é mais do que um grande ouvinte. É também um magnífico compositor de canções. Ouçam, à confiança, Like That ou Arrow Man ou Actor, de The Recently Found Innocent (Drag City, 2014), ou Beat e Pink Gorilla, de Cyclops Read (Castle Face, 2013). Não haverá desilusões.
Em termos de referências, o leque é rico: Beach Boys, The Kinks, The Zombies, Alexander ‘Skip’ Spence, Syd Barret, The Byrds, The Real Kids, Leonard Cohen, Joe Meek. Convenhamos, parece um mero inventário. Acontece que Tim Presley sabe o que fazer com as ideias que estes nomes nos deixaram. Transfigura-as, tornando-as suas, libertando-as do passado e dos espíritos de outros tempos. Uma ressurreição, a letra-morta a tornar-se, mais uma vez, espírito vivo. É isto. Mas nesse movimento, as suas canções desviam-se de formatos ou de esquemas reconhecíveis. O que aparece é o prazer da experimentação, do jogo, da bricolage, sem prejuízo das pequenas histórias que vão sendo cantadas, sempre ao colo de uma cândida e inteligente ironia. If you are still loving just to survive, I´m still the only man alive, cantará White Fence nesta noite. O ano ainda mal começou e, na ZDB, um dos concerto do ano já tem data marcada. JM