O entendimento folk segundo os White Magic, banda liderada por Mira Billote, subsiste em indagar o belo, o enigmático e tudo o que possa existir entre um elo e o outro. Tornaram-se senhores de um estilo encantatório logo desde o primeiro EP Through The Sun Door, porém sempre mantiveram uma presença modesta no contexto musical em que surgiram – circa 2000/01 – na então hiper germinadora Nova Iorque via Brooklyn. Depressa assinaram para a Drag City, uma das mais distintas editoras de música independente norte-americana, e logo embarcando em apresentações com Will Oldham ou Thurston Moore.
Distinguem-se pela voz carismática de Mira que se eleva por entre as composições cuidadas e detentoras de um sentido de sedução inato, como um estado de hipnose. Escutamos a ressonância do blues assim como cânticos espirituais que rodopiam no universo banda sem que assentem inteiramente numa posição reconhecível. De modo inverso a outros contemporâneos seus que se entregaram de corpo e a alma a uma abstracção de dimensão xamânica – reinada pelos poderosos No-Neck Blues Band – nos White Magic a concentração parte inicialmente na melodia para atingir à posteriori eventuais efeitos extra-sonoros. É curioso reparar que as harmonias inusitadas, ao piano ou à guitarra e que lhes confere uma genética ímpar, remontam em certa medida aos saudosos Quix-o-Tic, a primeira banda de Mira. Por lá pairam os momentos chave de tensão, de pausas e silêncios, tal como bizarras paisagens entre o macabro e a horrífico, embora actualmente desmarcados da estética pós punk que envolvia a banda. Uma deliciosa versão do clássico Katie Cruel de Karen Dalton permitiu-lhes uma maior exposição durante o ano de 2006, altura em que a longa duração Dat Rosa Mel Apibus vê por fim a luz do dia. No entanto, esta não seria a única incursão de sucesso em covers visto que um ano depois participariam dessa forma no filme de Todd Hayes, I’m Not There inspirado no mito de Bob Dylan.
Contam-se cerca de cinco anos desde a estreia dos White Magic em Lisboa. Às melhores memórias dessa actuação, deverá juntar-se agora este concerto de cariz especial por três grandes motivos: pela longa ausência dos palcos, pelo facto de estar prestes a ser editado um novo EP e desta ser uma rara apresentação a solo de Mira Billotte . Como se deve calcular, uma experiência que dificilmente se repetirá. NA