Dreams In Splattered Lines funde os 25 anos de electrónica DIY de Wolf Eyes com as sensibilidades avant-garde de Fluxus e o granito da vida sombria do Midwest. Continuando algumas das ideias exploradas no disco de colaborações Difficult Messages, o resultado é uma paisagem surreal de colagens sonoras desorientadoras, onde canções de sucesso são transformadas em terrários de flora sónica e fauna dizimada. Como que retirados de um sonho febril, os surrealistas dos anos 60 convergem com músicos de blues electrónico alienígena num submundo de mistério. O ar é denso com ruído branco de rádios de lavagem de carros, crepitando e efervescendo como um elixir tóxico, transmissões de poesia falada como frases absurdas e crípticas. Cada ambiente auditivo corroído é um microcosmo do caos, aperfeiçoado com uma precisão afiada. Arrastado num turbilhão de treze narrativas desconcertantes, cada uma delas uma viagem imprevisível através de mundos subterrâneos, uma viagem sónica da realidade dobrada em si mesma.
Wolf Eyes ⟡ Gonçalo Almeida
Gonçalo Almeida
IMPROVISATIONS ON AMPLIFIED & PREPARED DOUBLE BASS
“No presente álbum, Gonçalo Almeida questiona o futuro do contrabaixo e da música em geral, inventando um som que ainda não foi ouvido. Como muitas descobertas importantes, a sua invenção exigiu mais imaginação do que equipamento: “O meu setup é simples”, diz, “apenas um amplificador e um pedal de volume”. Ao ouvirmos as sete faixas deste álbum, imaginamos também uma interacção subtil entre o amplificador e o baixo: ligeiros movimentos que alteram a posição e a distância do ressonador (o corpo do baixo) em relação ao altifalante para criar um feedback controlado. Imaginamos também algo como uma gymnopédie com o pedal de volume, para modular uma distorção que realça o golpe de arco, a ressonância do pizzicato e várias preparações misteriosas. O improvisador tem a vantagem em relação ao compositor tradicional, de ouvir em grande pormenor a especificidade do som que inventa. Esta escuta ao vivo empurra-o para outras linhas que não teria imaginado no silêncio de uma sala de trabalho. Obviamente, a nova sonoridade do contrabaixo descoberta por Gonçalo Almeida direccionou a sua música para caminhos inexplorados, o trio de timbres nascido da combinação de feedback, distorção e acústica conduziu-o a linhas e energias que ainda não tinha desenvolvido nos seus álbuns anteriores. É evidente que a música deste álbum é outra.” Pierre Bastien