Angel Olsen é uma compositora do mundo, embora nunca esqueça as suas casas de partida. A última estadia na ZDB sedimentou uma residência artística, onde inscreveu Lisboa nas partituras de futuras produções. Voltar a Lisboa e à ZDB era inevitável. Desta vez, levamo-la ao Teatro da Trindade, onde será um privilégio ouvi-la novamente. As suas canções epigrafam a partilha de intimidade, motivam o encontro para rever amigos, numa reunião com a cidade onde brilhou e se refugiou. É por isso que vamos cá estar, para celebrar o regresso de uma amiga e ouvir o que tem para nos contar.
Longe vão os tempos em que Angel Olsen era uma voz bem guardada nos recantos do Missouri. Para trás ficam também os dias em que encantou no Cairo Gang ao lado de Bonnie “Prince” Billy e onde começou a despontar a curiosidade de quem a ouvia. O EP, Strange Cacti (2010) e o primeiro LP, Half Way Home (2012) anunciavam folk ancestral e frágil, contudo, inabalável. A poesia ora charmosa, ora sombria, incorpora as canções, liga-se aos acordes balançados, por vezes longínquos, taciturnos e dedilhados com delicadeza ímpar. A irreverência de Burn Your Fire for No Witness (2014) acrescentou a sujidade do rock à guitarra, recorreu às origens e ofereceu-lhe deambulações country. Angel Olsen afirmou-se e apareceu crescida pela modernidade de My Woman (2016) e no ano seguinte surge ao lado de Alex Cameron, juntos fazem de Stranger’s Kiss uma ode às paixões modernas.
Inspirou-se no passado para editar Phases (2017), resultado de maquetes e demos antigas, um regresso às cantigas folk, aos acordes macios, sem descuidar as frequentes composições camaleónicas e a versatilidade lírica habitual. A abertura do disco é reveladora, Fly On Your Wall, que é também tema integrante de uma compilação Anti-Trump, demonstra-nos, uma vez mais, que a música é a arma certeira para recuperar a liberdade, e quem melhor do que Angel Olsen para nos dizer. JH