Muitas ideias, muitas frentes, muito cabedal para dar e vender, Pedro Alves Sousa criou Má Estrela para dar vida a alguns dos seus fascínios de mãos dadas com alguns amigos, músicos. Pedro Alves Sousa no saxofone, Bruno Silva e Simão Simões na electrónica, Gabriel Ferrandini na bateria e Bruna de Moura no baixo eléctrico. Má Estrela começou como uma ideia de Pedro Alves Sousa de combinar jazz e diferentes elementos de electrónica e, de repente, expandiu-se graças às diferentes afinidades dos diversos membros (no passado, Miguel Abras tocava baixo no projecto).
Depois do álbum homónimo editado em 2022 pela Shhpuma, “Tornada” é o capítulo seguinte, desta vez na multifacetada Discrepant, provavelmente a editora portuguesa mais alinhada, na última década, em editar, entre outras coisas, música de margens feita em Portugal. “Tornada” está alinhado com o que se ouviu no passado, aprofunda e reanima as ideias do álbum de estreia e, sobretudo, torna tudo mais híbrido e, em simultâneo, mais condensado no objectivo de tornar este som em algo unificado, isto é, que não seja um conjunto de ideias, mas uma só ideia, onde todas as sensações dos músicos confluem para uma onda sonora, sem uma linguagem, mas linguagens.
A espaços sente-se a presença do espírito da On-U Sound de Adrian Sherwood e o fulgor daquele som mutante que povoava tanto o pós-punk como o no wave e tudo o que derivou daí. Convive com esse passado, mas não vive dependente dele para se formalizar. Aliás, pensa mais no peso com que alguma música de dança – footwork, p.e. – pode infectar aquilo que os Má Estrela pretendem construir. Em constante flow, sem consciência do que é estar à deriva e certos de que o que produzem está perto da plenitude. Seja para dançar ou não. Há algo de contagiante nos Má Estrela.
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