“Para onde agora? Quem agora? Quando agora? Sem questionar. Sem acreditar. Perguntas, hipóteses, chamem-lhes isso. Continuar, seguir em frente, chamem-lhe seguir, chamem-lhe em frente. Será que um dia, e assim adiante, um dia eu simplesmente fiquei em casa, em vez de sair, como fazia antes, para passar o dia e a noite o mais longe possível, não era longe.
Talvez tenha sido assim que começou. Pensamos que estamos simplesmente a descansar, para agir melhor quando chegar a hora, ou por motivo nenhum, e logo nos descobrimos impotentes para fazer o que quer que seja novamente. Não importa como é que isso aconteceu. Isso, diga-se, sem saber o quê. (…) No geral. Deve haver outras mudanças. Caso contrário, seria completamente desesperante. Mas é completamente desesperante. Devo mencionar, antes de continuar, de ir mais longe, que digo aporia sem saber o que significa. Pode-se practicar a suspensão do juízo de outra forma que não inadvertidamente?
Não sei. Com os sims e os nãos é diferente, eles hão-de voltar a mim à medida que eu avance e como, como um pássaro, cagar em todos eles, sem exceção. O facto parece ser, se é que na minha situação se pode falar de factos, não só que terei de falar de coisas das quais não posso falar, mas também, o que é ainda mais interessante, que eu, o que é, se possível, ainda mais interessante, terei de, esqueci-me, não importa. E, ao mesmo tempo, sou obrigado a falar. Nunca ficarei em silêncio. Nunca.”
O Inominável (1953), de Samuel Beckett



