P857 é uma intervenção espacial e conceptual que recusa a performance da visibilidade em termos impositivos. Num tempo em que a imagem é transformada em arma e as narrativas são coagidas à legibilidade, P857 explora a ausência não como vazio, mas como resistência. Através da instalação, escultura, vídeo e marcas no espaço, a exposição encena um confronto com a violência da representação e com a exigência de auto-revelação. Não expomos histórias; guardamo-las.
O que resta para ver quando o olhar se esgota, quando tudo já foi visto, consumido ou riscado? Será possível a visão depois de um vazio profundo? Encontramo-nos perante um portal de questões sobre a recusa em revelar os nossos detalhes, que se transforma num acto de resistência.
P857 inicia-se no limiar da visão, num contexto em que o Genocídio se desenrola em Gaza não como um acontecimento, mas uma operação prolongada e arrastada, num momento em que as narrativas colapsam sob a força do cepticismo estrutural, e a imagem se torna uma ferramenta maleável nas mãos daqueles que moldam a nossa violação. Escolhemos não responder com a visão, mas com algo que a transcende: o invisível.
Não oferecemos mais visibilidade. Não cumprimos a expectativa de mostrar.
Em vez disso, colocamo-nos deliberadamente no espaço da recusa – na margem do visível – onde a abstenção se torna um acto ético. Não se trata da ausência como apagamento, mas a ausência como escolha artística.
Não fugimos da imagem, mas confrontamos a sua violência estrutural perguntando: Deve tudo o que pode ser visto ser visto? Deve tudo o que é dito ser dito?
As obras nesta exposição não pretendem ser decifradas, mas sentidas. Não revelam, mas sugerem. Não documentam, mas contêm.
Aqui, traçam-se fronteiras para proteger o sentido do esgotamento – para resistir à transformação de histórias íntimas em dados, registos, material para classificação. Através da negação estratégica, a exposição explora o vazio como uma linguagem que imiscui a sua presença na ausência. O invisível como contra-força à violência estrutural e colonial.
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Co-produzida com o LEFFEST, P857 insere-se no contexto do ciclo temático Exílios.
 
         
    

 
                                                 
                                                 
 

 
             
             
             
             
             
             
             
             
             
             
             
             
             
             
             
             
             
             
             
             
            