Aos primeiros anfiteatros, onde se estudou o corpo humano, na Europa, deu-se o nome de teatro anatómico. Ali, onde se deram a ver as primeiras dissecações, revelaram-se maravilhas sobre o interior do corpo. O teatro dava a ver as entranhas há já alguns séculos, mas estas imagens de corpos abertos talvez tenham provocado horror, estupefação e encantamento inéditos.
Foi a preparar um espetáculo que nos tocámos cautelosos pela primeira vez – nas feridas e nas escamações. À medida que os nossos limites se foram confundindo, deparámo-nos com uma evidência de que já suspeitávamos: já estávamos um no outro, já estávamos pelo ar. Porque somos partículas vivas e mortas em movimento constante. Apesar de nos tentarmos conter, é impossível. E, na verdade, até nos sentimos em casa ao partilhar as nossas partes sensíveis.
Em ‘Partes Sensíveis’ especulamos sobre possíveis relações entre a ciência que criou conceções sobre os nossos corpos, o nosso encontro físico e emocional despudorado e um tempo que não conhecemos ainda com os nossos músculos, os nossos órgãos e as nossas peles e a que chamamos, à falta de melhor palavra, de futuro.
David Marques e Nuno Pinheiro