Fundamentada numa relação já longa de proximidade e respeito mútuo, esta parelha de luminários de Melbourne, Austrália, vem desde a década de 90 do século passado a marcar encontros pontuais que tanto passam pela participação de Guthrie no aclamado ‘Hubris’ de Ambarchi, como pela edição de discos desse primeiro na Black Truffle do último, para além de um documento discreto datado de 2019 na Some Fine Legacy de um concerto em duo no mítico Cave12 em Geneva – ‘Knotting’, de seu nome. Partindo de uma peça sempre em aberto de Ambarchi intitulada ‘Knots’, cuja vida tem sido perpetuada em novas configurações quer a solo quer em colaborações, ‘Knotting’ fica para já como o acesso mais imediato e especulativo daquilo que este duo poderá trazer ao palco do Aquário. O ride insistente de Guthrie que vai sustendo os drones de guitarra subterrâneos de Ambarchi num caudal que ganha propulsão rítmica e harmónica num mútuo acordo entre peles e pratos atiçados pelo fogo free jazz e a cascata de electricidade cintilante na explosão de notas de Ambarchi. Não querendo fixar muito este momento como prenúncio, até por todo o tempo e sabedoria acumulados, mas entusiasmados pelo mesmo, podemos sempre partir para objectividade de ambos os CVs deste duo. Entre ambos, somam-se registos por editoras tão influentes como a eMego, iDEAL, Southern Lord, Kranky ou Clean Feed, para além de uma assembleia de colaborações que vão de gente do jazz como Evan Parker ou Roscoe Mitchell, da composição contemporânea por via de Sarah Hennies ou Annea Lockwood, da electrónica – Mark Fell e Thomas Brinkmann – e demais música sem limites de género: Keiji Haino, Jim O’Rourke, tanta, tanta personalidade. E se Guthrie tem sido uma presença recorrente na ZDB mais do que justificada, este regresso com o seu compatriota traz ainda mais motivos para celebração. Por tudo aquilo que já foi aqui escrito, mas ainda mais, por tudo aquilo que ainda está por testemunhar.
BS