em colaboração com Isilda Maria Andrade e Coni Rodríguez
c ch chu chuva (mais real do que no momento em que aconteceu) é uma performance site-specific sobre como uma memória, ao pousar-se sobre um lugar, pode descobrir fios narrativos ocultos que revelam possíveis modelos de estória. Desta vez, é em Lisboa o lugar onde se desenvolvem sentimentos produzidos por esta memória. Com eles, Jonás e Lorenzo exploraram cancioneiros de músicas populares e os entornos em que habitam. Nestes espaços, as sibilantes diluem os limites entre o asturiano, o português e o castelhano. Também rastrearam trilhas duma grande onda, cujas ruínas são lustres caídos. Esta noite apanhamos do chão as suas contas que são as gotas daquela tormenta, para tender a uma outra varanda sobre uma praça que tem tudo: lírios, fontes, azulejos, bancadas de madeira, rosas brancas e demais flores furtivas.
Jonás e Lorenzo partilham processos de criação que exploram o potencial gerativo das memórias. Nestes processos, entrelaçam-se as lembranças onde fluem constelações de pessoas, objectos, vivências e histórias. A partir destas relações e da sua expansão criam performances que integram elementos sonoros, linguísticos, audiovisuais, músicas, textos e situações com as quais reinterpretam as emoções e imagens do passado, em estreita correspondência com o presente. Desta forma, o poder da memória transforma-se numa criação de estruturas sentimentais organizadas por narrações que se entrecruzam.
No decorrer da sua residência em Lisboa, Jonás e Lorenzo viram pela primeira vez uma gravação extraviada que outrora filmaram de uma performance: de noite, uma tormenta atravessa um concerto que eles próprios executam numa varanda junto ao seu amigo Javi Cruz. A partir da imagem dessa memória, questionam-se sobre a origem e a potência de forças que constroem e destroem mundos para dar lugar a outros novos. Nessa noite de 2021, abriu-se o céu sobre a praça de ‘La Flor Furtiva’ em Madrid e, juntos, com uma voz amplificada, uns aparelhos electrónicos, um guarda-chuva, uma multidão e uma tormenta, transformaram-se numa outra coisa.
Jonas e Lorenzo estiveram na ZDB em Marvila, em Fevereiro e Março, numa residência de criação.