“O trabalho tem vindo a desenvolver-se sobretudo através do desenho e da escultura, separadamente mas em contaminação recíproca, na criação/apropriação de formas espaciais ou matérias autónomas (não referentes nem a um tempo histórico nem a um contexto social, institucional ou industrial específicos). Por isso, talvez até certo ponto, desintegradas das habituais estruturas de interpretação e comunicação.”
– Inês Botelho
Os trabalhos de Inês Botelho resultam de experiências sobre a ideia de espaço físico. Passam por um inicial processo de investigação, de testar as possibilidades de concretização da forma e as suas implicações na leitura. As formas finais que são construídas e expostas jogam com as composições e figurações através de lógicas da funcionalidade (causa e consequência), lógicas da representação (perspectiva e escala) e lógicas da física (leis da gravidade, ou a título de exemplo: um objecto não pode simultaneamente ser côncavo e convexo, ou compacto e oco).
No controle e manipulação destas lógicas, a artista procura um equilíbrio entre aquilo que vai de encontro à nossa percepção e compreensão do mundo, e aquilo que contraria essas tendências.
Os espaços, objectos ou sugestões, posicionam-se em fronteiras, por vezes originando tensões a vários níveis: entre as diferentes figurações possíveis; entre uma função e a sua ausência; entre uma manipulação severa (do espaço ou da linha) e um jogo intencionalmente humorístico; ou entre a aparente linguagem de símbolos, e simultaneamente estrutura ambígua, sem objectivo de comunicação.
Se por um lado a especificidade e selectividade dos elementos nos trabalhos de Inês Botelho, os coloca na categoria de modelos (eventualmente apropriados da arquitectura), por outro, a leitura não imediata e a ausência de uma fórmula nos efeitos por eles produzidos, devolve ao espectador o carácter fundamental da experiência.