ZDB

Artes Visuais
Exposições

Intervenção de Mané Pacheco no Museu Militar de Elvas

— Festa da Arte Contemporânea do Alentejo (FARRA)

28.06 — 25.08.24
Museu Militar de Elvas

Horário de funcionamento:
3ª feira a Domingo: 10h00 – 12h30 / 14h30 – 19h00

A Festa da Arte Contemporânea do Alentejo (FARRA) é um evento periódico de artes visuais, promovido pelo Museu de Arte Contemporânea de Elvas. A primeira edição decorre entre Junho e Agosto de 2024.

Restraint, 2024
Restraint, 2024
Restraint, 2024 ©Diogo Evangelista
Besta cabeluda, 2024
Tripé Desmiolado, 2024

Querido leitor,

De como Mané Pacheco interveio na exposição permanente do Museu Militar de Elvas – secção dos arreios e nas salas do serviço de saúde do exército, a saber, secção de oftalmologia, secção de medicina dentária e secção de ortopedia – e de como isso não é um acaso, ou ainda, de como as casualidades enformam a arte e como dela podemos fazer qualquer coisa sem deixar de nos entreter.

Na segunda sala do Museu, na secção dedicada aos aparelhos das cavalgaduras a artista colocou num primeiro plano uma nova serie de arreios especulativos passíveis de serem usados. As suas dimensões desproporcionadas anulam a possibilidade da escala humana anunciando um corpo zoomorfo e sugerindo disfuncionalidades; a sua materialidade, a borracha, utilizada na sua feitura, remete para os conhecidos ciclos extrativos que provocaram a mobilização de uma grande quantidade de indivíduos obrigando-os a um regime de trabalho próximo da escravatura; e o seu desenho, evoca os artefactos utilitários nos jogos de dominação BDSM.

Mais à frente, seguindo pelo corredor e após vários núcleos, chegamos à cirurgia geral. Ladeando o esqueleto de um cavalo, um ser rarefeito apresenta-se imóvel na sua pose elegante. Ao aproximar-nos reparamos que não possui cabeça: a sua acefalia suspende o sujeito libertando-o da sua racionalidade.

Na secção seguinte, a dentária, é-nos presenteada uma entidade insólita cujo contorno é um cavalo revestido de pelo sintético. Operação muito cara à artista na produção de entidades outras onde o natural e o sintético se entrecruzam.

Chegados à traumatologia, deparámo-nos de seguida com uma série de tiras elásticas dependuradas cuja cor-de-pele nos remete para material hospitalar. A sua feitura é um cruzamento entre borracha e aço, sendo este último ora pungente ora estruturante. A fazer o fundo, uma cama operatória de 360º. Um aparelho que fora utilizado no passado para recompor corpos, reparar traumatismos múltiplos, colar ossos e re-alinhar orgãos.

Os trabalhos de Mané Pacheco presentes nesta exposição transportam uma autonomia estética e simbólica própria escapando à armadilha de uma crítica fácil ao militarismo ou da denotação clara à história nacional. A estranheza dos seus objectos são aqui realçados ao serem colocados neste enquadramento.

Não só de arte vive o ser humano também de arreios!

Natxo Checa
28 Junho 2024

Mané Pacheco

Mané Pacheco é natural de Portalegre e atualmente radicada em Lisboa. Tem uma formação multifacetada onde mistura arte e conservação ambiental. Após os estudos iniciais em Conservação da Natureza, Mané mudou o seu foco para as artes, licenciando-se na FBAUL em Artes Multimédia. O trabalho de Pacheco é uma fusão perfeita das suas paixões gémeas pela arte e pela ecologia, utilizando uma abordagem interdisciplinar. As suas criações investigam a materialidade e o simbolismo de vários objetos, explorando temas que abrangem as dimensões biológicas, fisiológicas e sociológicas da dinâmica de poder nas relações.

Os esforços artísticos de Pacheco são notavelmente diversos, abrangendo desenho, escultura, instalação, vídeo, fotografia e performance. No centro da sua obra está o tema do pós-extrativismo, que ela examina através de materiais orgânicos e sintéticos.

Este contraste cria um diálogo entre os mundos natural e artificial, com as suas criaturas híbridas e seres enigmáticos a guiarem o movimento e o foco do espectador.

O empenho de Pacheco em explorar temas de dominação é evidente nas suas esculturas, predominantemente feitas de borracha natural preta. Estas peças, influenciadas tanto pelos mitos amazónicos como pela cultura BDSM, abordam aspetos contrastantes da dominação – um fetichista, o outro político.

Esta dualidade na obra de Mané Pacheco realça a complexa relação entre a indústria contemporânea, as comunidades indígenas e as preocupações ambientais, tornando a sua arte não só visualmente marcante, mas também profundamente instigante.

Próximos Eventos

aceito
Ao utilizar este website está a concordar com a utilização de cookies de acordo com o nossa política de privacidade.