Terceira e última apresentação do trabalho desenvolvido por Norberto Lobo – em residência artística – com Marco Franco, Ricardo Jacinto e Yaw Tembe.
Terminado recentemente o arco narrativo d’A Volúpia das Cinzas de Gabriel Ferrandini e com ‘A Conference of Stones and Things Previous – VI’ de Filipe Felizardo ainda em processo de descoberta pessoal, a ZDB continua a estreitar relações de carinho e respeito com alguns dos músicos cujo trabalho aparece de uma forma mais ou menos livre intimamente ligado a esse espaço, através de residências de inigualável valor criativo e humano. Nesse contínuo de trabalho franco e destemido, o nome de Norberto Lobo afigura-se como uma escolha tão natural quanto gratificante dada a sua singularidade e toda uma cumplicidade mútua ao encarar o desconhecido com bravura.
Um dos mais justamente acarinhados e reverenciados músicos que apareceram no burgo, Lobo tem vindo a desenhar com uma minúcia, sede e fascínio únicos um importantíssimo trajecto à guitarra desde que se estreou em nome próprio com ‘Mudar de Bina’ em 2007. Desse primeiro registo onde se delineavam vignettes de recorte melódico puro rendilhadas na americana e no fingerpicking de heróis como John Fahey, Robbie Basho ou Jack Rose com encarnação devida do espírito do enorme Carlos Paredes – desde logo patente no título -, foi explorando contínua e apaixonadamente novos caminhos ao longo de uma duradoura relação com a Mbari em três álbuns como que a evocar desígnios para os expelir numa voz só sua.
Com colaborações mais ou menos perenes em projectos como Tigrala, Denki Udon e com particular pertinência com João Lobo em Oba Loba, a espelharem de forma mais do que digna essa mesma inquietude face à estagnação de formas e conteúdos, Lobo chega com os magistrais e reveladores ‘Fornalha’ e ‘Muxama’ pela suiça three:four a um novo patamar de elevação, onde a sua lírica se imiscuí por entre o mantra, o abismo e o absoluto para se dotar de uma linguagem profundamente sua, mas constantemente aberta, onde harmonia e textura se confundem naquele dedilhar.
É nesse campo aberto e volátil que Lobo se irá apresentar agora para uma residência na ZDB entre os meses de Março e Maio, com três actuações numa relação piramidal estreita com o trompetista Yaw Tembe – membro de projectos como Zarabatana ou Gume e incansável sopro de vida por estes lados – e com o baterista Marco Franco – polvo com tentáculos que vão da pop ao free e que temos acompanhado recentemente nos Clocks and Clouds ou Memória de Peixe – aos quais se poderão juntar outros músicos naquele que é o mindset mais próximo da gloriosa radição standard em que guitarrista já esteve. Nesta última apresentação junta-se a este trio o violoncelista Ricardo Jacinto – nome com larga actividade no domínio da música improvisada que tem colaborado com gente como Nuno Torres ou David Maranha. Aquela curiosidade enorme que nos deixa imensamente orgulhosos. BS