“O animal que, portanto, eu sou” – “O animal que, portanto, eu sigo”
(Jacques Derrida)
No solo, na ausência da torre.
Assombrada pela verticalidade das ruínas arquitectónicas;
Ainda prisioneiros do nosso próprio poder
Entrançando a nossa própria sujeição,
Mas equilibrando a balança,
Mirando o ritmo esperado.
Quem segue quem? Quem necessita quem? Onde está o limite? Se ele existe.
Decadent and symmetrical
Angels are mathematical
Angels are bestial
Man is the animal
Man is the animal
-Coil, letra de “Fire of the Mind”
À primeira vista: um cão e um humano sentados no chão, presos um ao outro por uma trela.
Num segundo olhar: um animal e uma mulher intrinsecamente ligados por uma trança.
A verticalidade do poder, a inquestionável dominância exercida sobre a natureza, que presume a existência duma fronteira inultrapassável entre o humano e os outros seres vivos, agora desenrola-se horizontalmente numa relação de interdependência não só forte e instintiva, mas também ambígua.
Para se libertar ou redimir, o Homem necessita de se deitar com as bestas. A posição erecta é o símbolo do poder que o homem exerce sobre os animais; mas é justamente nessa atitude que ele se expõe, visível e vulnerável. Pois esse poder é ao mesmo tempo culpa, e somente estendidos no chão, entre as bestas, podemos ver as estrelas, que nos redimem do assustador poder do homem.
-Kafka, “O outro processo, As cartas de Kafka a Felice”, traduzido por Laura Caetano