Em 2021, a reedição da discografia dos Seefeel na Warp/Rephlex nos 1990s relembrou-nos o quão, muitas vezes, o presente é imperdoável, pela mania das tendências e de se ouvir o que se consegue compreender no momento. Começaram como uma banda de guitarras, foram associados – correctamente – ao shoegaze, mas isso foi também uma praga para o que veio a seguir, quando transformaram a ideia de canções em sombras electrónicas. Porque, afinal, desde sempre, mesmo em “Quique”, primeiro álbum, mais formal, foram uma banda de matéria e menos do conforto do conhecido.
As reedições da Warp criaram uma razão para voltar a ouvir música que era muito angular para ser percebida pela malta de tunnel vision das guitarras e muito simpática para a matriz vanguardista da Warp da altura. De repente, muitos negacionistas redescobriram-nos e reavaliaram, uma outra geração descobriu que a música de Mark Clifford e Sarah Peacock era intemporal para ficar perdida em rótulos dos 1990s. Ou seja, as reedições permitiram que fossem recontextualizados e que isso abrisse as portas para os querermos de volta.
Mesmo assim, o miniálbum deste ano surgiu como uma surpresa. “Everything Squarred” é uma evolução natural do seu som, não o que deixaram nos 1990s, ou até no álbum homónimo de 2010, mas uma evolução abstracta daquilo que idealizaríamos que soassem em 2024. O presente de hoje é-lhes, contudo, mais gentil. Eles criaram caminho para que outros projectos/bandas experimentassem durante mais de três décadas e agora é como se regressassem para colher os frutos. Não para dar uma voltinha de celebração, mas para mostrar como o presente é mais vivo do que a nostalgia, de que por mais que celebremos os seus álbuns dos 1990s, o que criam hoje é relevante, contemporâneo e oportuno. Ainda é o som, ainda é sobre o som e uma procura insaciável de materializar esse som. Para os de outro tempo, o shoegaze continua lá, de outra forma, também ela oportuna. Vê-los no ativo, num espectáculo A/V, em 2025, é um privilégio. AS