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Super Ballet: Moin ⟡ Kassie Krut [Esgotado]

qui27.03.2521:00
Galeria Zé dos Bois


Moin ©Amy Gwatkin
Kassie Krut ©Kit Ramsey

Moin

Entidade divergente da parelha Raime de Joe Andrews e Tom Halstead em panelinha com a mega-requisitada Valentina Magaletti, este trio sediado em Londres revoca uma ideia muito paralela do post-hardcore sem entrar por acessos meramente nostálgicos ou revanchistas. Ao partir de uma reconfiguração dos príncipios base do rock – guitarras e bateria – Moin chegam a uma música que poderia bem ter sido o passo seguinte da lendária Dischord no seu movimento de abertura dos horizontes do género em contacto com pontos de partida do post-rock advindos mais ou menos daí a terem lugar em Louisville e Chicago e na senda mental do post-punk das Ilhas Britânicas. Daí que o termo “post-whatever” que para si escolheram faça, passe alguma presunção que se lhe queira colar, todo o sentido.

Assente numa arquitectura brutalista de guitarras que tanto devem aos harmónicos e cadências assombradas de ‘Spiderland’ como à electrificação hipnótica conduzidas pela polirritmia pára-arranca de Magaletti e pautada por esquissos electrónicos, o som de Moin chegou em 2024 a um patamar ainda mais indicioso da sua transfiguração, após ‘Moot!’ e ‘Paste’, com a edição de ‘You Never End’ – sempre na AD93. Contando com os préstimos vocais de Coby Sey, Sophia Al-Maria, james k e Olan Monk, ‘You Never End’ desenvolve-se em torno de harmonias repetitivas que se vão entrelaçando no ritmo sem pressa de chegar a algum lado, acoplando parcas ideias que revitalizam continuamente a existência destas malhas, de onde emergem essas vozes reais e imaginárias como fio condutor para narrativas obtusas. Como quem anseia o que está ao virar da esquina numa trepidação fixe. BS

Kassie Krut

Kassie Krut começou como um ato a solo, com o seu nome a confundir-se com o do seu criador, Kasra Kurt, que também era guitarrista e vocalista em Palm. Enquanto o grupo de quatro elementos sediado em Filadélfia empreendia novas e estimulantes aventuras na música de guitarra, o projeto paralelo era um local para Kurt satisfazer o seu gosto pela eletrónica e pôr a fervilhar ideias perdidas. Quando os Palm se despediram em 2023, após dez anos e três álbuns aclamados, Kurt mudou-se para Nova Iorque com Eve Alpert, a co-guitarrista e vocalista da banda, e Matt Anderegg, que tinha produzido o seu último disco. Ao tocarem juntos (pessoalmente e por vezes remotamente), os amigos e colaboradores de longa data baptizaram uma nova encarnação de três cabeças, Kassie Krut.

No seu EP de estreia, auto-produzido e autointitulado, a abordagem do grupo é enganadoramente simples. Com uma paleta restrita e uma propensão para a repetição, encontram um mundo de texturas e timbres opostos: elétrico e acústico, sintético e orgânico, suave e friccional, terrestre e celestial. Os seus sons feitos de raiz meloditizam o ruído duro da vida quotidiana – alarmes de carros, toques de notificações, tons de discagem, feedback – contrapondo-o a agudos de passos gaguejantes, percussão de tachos e panelas e tons graves tensos que se agitam na cabeça como uma bola de borracha. A sensibilidade industrial produz um objeto sónico com propriedades invulgares. Dilui-se e engrossa nos nossos ouvidos, tensiona e amolece, coagula-se num momento e evapora-se no seguinte.

Os vocais de Alpert são impetuosos, triunfais, mordazes. Em “Reckless”, ela canta o nome da banda ao estilo de uma provocação de recreio (“If you ask me who I wanna be / Ima spell it out so it’s plain to see / K-A-S-S-I-E-K-R-U-T-T-T-T”), satirizando o léxico do egoísmo pop ao mesmo tempo que reconhece o seu poder afetivo. Aqui e noutros lugares, a partitura contém uma série de afirmações igualmente adequadas para a discoteca desta noite ou para o espelho de amanhã de manhã, embora com artefactos estranhos de especificidade vivida. Em “United”, Kurt toma a vez ao microfone em falsete alterado, apresentando uma canção de amor para um apego ferido. Mesmo quando os sons de instrumentos impossíveis são trabalhados em detalhes minuciosos, a entrega do grupo mantém um ar de brincadeira desprendida, implantando um reflexo metálico e divertido do idioma pop contemporâneo.

Kurt e Alpert passaram a adolescência em Londres, cujas ruas e ondas de rádio estavam impregnadas de sons de dub, grime e garage. A esses encontros iniciais juntou-se logo a consideração pelo hiperpop cristalizado dos SOPHIE, o minimalismo atitudinal dos Tirzah e a viragem dos DAF para a música corporal eletrónica, que criou o modelo pelo qual o punk se tornaria eletrónico nos quarenta anos seguintes. Depois de anos a torcer a instrumentação rock em formas desconhecidas, o primeiro lançamento de Kassie Krut representa uma reorientação transformadora de energias. Estas faixas evocam o tipo de sabedoria que só vem da experiência – e o tipo de experiência que só pode ser pontuada por novos sons, ainda a brilhar com as limalhas de metal da sua criação.

– Maxwell Paparella

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