Algures a meio de “Rides On”, surge “Ride On”, uma de várias canções que enchem as medidas no recente álbum dos Nude Party. Com quase cinco minutos – uma das mais longas de “Rides On” -, chama a atenção pelo desapego com que conta uma biografia e, nas entrelinhas, evoca os Galaxie 500 nos extremos: primeiro nos coros que ligam a ignição, nos segundos finais pela guitarra que não sabe, não pode, não quer terminar. Tudo isto seria irrelevante se os Nude Party alguma vez tivessem mandado indícios de influência do trio de Massachusetts no passado, no homónimo de 2018 ou “Midnight Manor” (2020). Longe disso, construíram-se numa ideia de rock ligada ao psych blues e isso valeu-lhes desde muito cedo comparações aos Rolling Stones ou aos Velvet Undeground, com as devidas distâncias. “Ride On” abre o jogo e demonstra uma banda que aprendeu a dialogar e a transformar o núcleo para dar voz a todos.
Sexteto nascido na Carolina do Norte em 2012 e formado por Austin Brose, Alexander Castillo, Shaun Couture, Patton Magee, Don Merrill e Connor Mikita, ganhou muito crédito local até ao lançamento do primeiro álbum. Fizeram digressões com os Black Lips, King Gizzard And The Lizard Wizard, Cold War Kids e abriram para Arctic Monkeys e Jack White. Tudo correu de feição aos Nude Party e seria natural terem procurado outra solução para o sucessor do aclamado “Midnight Manor”, uma que os lançasse na natural ordem das coisas para outro tipo de estrelato. Mas decidiram abrandar, afastar a ideia de um produtor externo e produzirem os seis a razão que os traz à Zé dos Bois neste Junho, “Rides On”. Destemido na abordagem que faz às origens folk/blues da banda e os mete a percorrer uma série de influências, que passam pelo som da Stax, os Galaxie 500 e a colmeia aventureira do disco. Mantendo a base psych rock/blues, libertários aonde vão beber sons e como os encaixam num lote de canções que soam – e bem! – a outra coisa e se fazem ouvir como hits instantâneos: “Sold Out Of Love”, “Cherry Red Boots”, Ride On”, “Hey Monet”, “Tell Em” ou “Midnight On Lafayette Park”. Gravado sem pressas, ao ritmo da partilha e do bate-boca de quem soube dar um passo atrás e crescer. “Rides On” é o movimento contínuo que passa por Lisboa no momento certo. AS