ZDB

Cinema

Uma festa para viver – a propósito dos cinquenta anos da independência de Angola

— programação por Sofia Afonso Lopes

qua02.07.2519:00
qua09.07.2519:00
qua16.07.2519:00
qua23.07.2519:00
Galeria Zé dos Bois (Rua da Barroca, 59)


Mopiopio: sopro de Angola (1991)
A luta continua (1977)
Há sempre alguém que te ama (2004)
Nossa Senhora da Loja do Chinês (2022)
Quem faz correr Quim (1992)
Ruy Duarte de Carvalho, realizador de 'Uma festa para viver' (1975)

Todas as sessões decorrem às quartas-feiras, às 19h, na ZDB.

No momento em que se celebra meio século da independência política de Angola – proclamada a 11 de Novembro de 1975 – propõe-se um ciclo de cinema que dê conta de parte da produção audiovisual que, nos últimos cinquenta anos, tem animado o léxico imagético do país.

Longe de alguma vez se ter constituído enquanto «indústria», o audiovisual angolano conhece, no período imediatamente anterior à proclamação da independência e nos anos que se seguem, uma grande vitalidade. Apesar das dificuldades de fazer cinema num território ainda há pouco saído de uma guerra pela sua soberania e empurrado já para uma outra, despontava, do panteão filmográfico do país, uma vasta produção em película, encabeçada por nomes como Asdrúbal Rebelo, Ruy Duarte de Carvalho, António Ole, Carlos Sousa e Costa ou os irmãos Henriques, entre outros, e viabilizada por organismos como a Promocine, a equipa Angola – Ano Zero, a Televisão Popular de Angola (TPA), o Instituto Angolano de Cinema (IAC) e o Laboratório Nacional de Cinema (LNC). Politicamente comprometido e assumidamente revolucionário – embora nem sempre de matriz estritamente propagandística como por vezes, equivocadamente, se insinua – este cinema participou ativamente num projeto de emancipação feito também pela imagem, construindo (e questionando) a ideia de Estado-nação e de «angolanidade». Como nos recorda Ruy Duarte, num dos muitos escritos que nos deixou sobre este período, “era a independência, era a guerra, era o começo de uma nova era, longamente aguardada”.

Pouco depois, porém, a produção cinematográfica começa a dar sinais de algum abrandamento – muito por conta das repercussões do conflito civil – e mesmo os materiais previamente gravados parecem cair no esquecimento. Ainda assim, entre meados dos anos oitenta e até ao final da década seguinte, o cinema angolano existe e resiste como pode: os supramencionados realizadores «pioneiros» esforçam-se por continuar a produzir cinema, embora quase sempre a partir do exterior, sendo que a estes se soma uma nova geração de cineastas, como Zezé Gamboa, Pocas Pascoal ou Mariano Bartolomeu, cujo trabalho, desenvolvido também maioritariamente na diáspora, começa a deixar lastro.

Na virada do novo milénio, a atribuição pelo Estado angolano de uma verba de aproximadamente um milhão de dólares destinada à produção cinematográfica, bem como a criação, em 2003, do Instituto Angolano de Cinema, Audiovisual e Multimédia (IACAM), parecem prometer uma descompressão do panorama audiovisual nacional. Amiúde denominado de «cinema da retomada», este período viu a estreia de produções que há muito se arrastavam – entre as quais se destacam O Comboio da Canhoca (2004) de Orlando Fortunato ou Na Cidade Vazia (2004) de Maria João Ganga – impulsionando também a rodagem da então primeira longa-metragem de Zezé Gamboa, O Herói (2004).

Face a um investimento estatal que se revela, ainda assim, insuficiente e incapaz de assegurar uma produção regular, começa a ser visível uma série de iniciativas autónomas empenhadas em democratizar o acesso à produção audiovisual. A partir de 2010, a então recém-criada produtora Geração 80 assume-se como uma das mais importantes dinamizadoras do panorama cinematográfico do país, albergando cineastas como Fradique, Kamy Lara ou Ery Claver que, recentemente, viu a sua primeira longa-metragem estrear no Festival Internacional de Cinema de Locarno.

Mais do que traçar uma história da cinematografia angolana e das suas obras – que são muitas e variadas – este ciclo procura exibir alguns dos produtos cinematográficos que, desde meados da década de setenta e até hoje, saíram do território. Convocando múltiplas temporalidades e respetiva complexidade histórica – a euforia e a urgência da revolução, a angústia da guerra e a reconstrução nacional, o colapso da promessa socialista e a sua reconfiguração numa chave capitalista e neoliberal –, a programação que aqui incluímos é uma oportunidade para refletir na pluralidade e polissemia do cinema angolano. É também o testemunho da sua fertilidade e resiliência criativas. É, acima de tudo e como preconiza o título do filme que dá nome a este ciclo, uma festa para viver!

* Desejamos expressar o nosso agradecimento a todos os realizadores e realizadoras que autorizaram a exibição dos seus filmes, bem como à Agência Nacional das Indústrias Culturais e Criativas (ANICC) pela sua colaboração neste ciclo.

02.07 - Mopiopio: sopro de Angola

Sessão de 56min seguida de conversa com o realizador Zézé Gamboa.

Mopiopio: sopro de Angola (1991)
De Zézé Gamboa
(doc, 55’)
A apresentar em cópia digital.

Informação completa aqui.

09.07 - A luta continua / Há Sempre Alguém Que Te Ama

A sessão, de 72min, será precedida de uma conversa com a realizadora Pocas Pascoal.

A Luta Continua (1977)
De Asdrúbal Rebelo e Bruno Muel
(doc,16’)
A apresentar em cópia digital.

Há Sempre Alguém Que Te Ama (2004)
De Pocas Pascoal
(doc, 56’)
A apresentar em cópia digital.

Informação completa aqui.

16.07 - Nossa Senhora da Loja do Chinês

Sessão de 99min seguida de conversa com Ery Claver (virtualmente).

Nossa Senhora da Loja do Chinês (2022)
De Ery Claver
(fic, 99’)

Informação completa aqui.

23.07 - Quem Faz Correr Quim? / Uma Festa Para Viver

Sessão de 56min seguida de conversa com Ana Paula Tavares.

Quem Faz Correr Quim? (1992)
De Mariano Bartolomeu
(fic, 21’)
A apresentar em cópia digital.

Uma Festa Para Viver (1975)
De Ruy Duarte de Carvalho
(doc, 35’)
A apresentar em cópia digital.

Informação completa aqui.

Sofia Afonso Lopes

Sofia Afonso Lopes é licenciada em Estudos Artísticos – Artes e Culturas Comparadas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL). Em 2022, e na mesma instituição, concluiu o mestrado em Estudos Portugueses e Românicos, na especialidade de Estudos Africanos, com uma dissertação sobre cinema em Angola entre os finais da década de 20 e os primeiros anos da independência do país. Atualmente, frequenta o Programa Interuniversitário de Doutoramento em História: mudança e continuidade num mundo global (PIUDHist) onde desenvolve, com uma bolsa da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), um projeto sobre os cinquenta anos do cinema angolano (1975-2020). Foi também bolseira de investigação do projeto AfroLab – A Construção das Literaturas Africanas. Instituições e Consagração dentro e fora do Espaço de Língua Portuguesa (1960-2020). Recentemente, co-organizou a obra Escritas Afrodescendentes: estudos, entrevistas, testemunhos (2025). As suas principais áreas de investigação são os Estudos Visuais, História Contemporânea de Angola e Estudos Pós-Coloniais, tendo publicados ou no prelo vários artigos em revistas científicas portuguesas ou internacionais, bem como capítulos de livros.

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