Poiso para a sede da influente Boomkat, que mais do que uma mera loja tem parido muita da escrita musical mais entusiasmante e informada da actualidade, Manchester tem sido, nos últimos anos, um hub fervilhante de electrónica com cabeça, corpo e uma visão tão plural quanto sua. Sem se julgar uma cena, apesar de inevitáveis afinidades estéticas e emotivas que se estabeleçam, é num mosaico urbano de nomes como Demdike Stare, Space Afrika, Afrodeutsche ou Iceboy Violet que encontramos Sockethead tcp Richard Harris. Pintor, produtor e membro da crew de djs Return To Zero que em isolamento auto-imposto profético numa caravana em Glasgow no ano de 2018 deu forma inicial ao seu álbum de estreia – Harj-o-Marj. Lançado pela mancuniana YOUTH, que o Marcos da ZDB diz ser com propriedade “uma das labels mais interessantes dos últimos anos”, Harj-o-Marj é um caleidoscópio dorido de linguagens fora de fase com uma sensibilidade e inspiração muito brit. Panorâmica nascida da solidão onde avistamos de relance estilhaços jungle, soul carcomida, hip-hop screwed, as memórias do futuro da Skam e aquele sentimento inefável da weird britannia de Graham Lambkin a Gazelle Twin. Espécie de compêndio vivo de muita da música propalada pela mítica loja da cidade, numa colagem de batidas fractais, vozes processadas, samples sem origem definida e uma atmosfera geral de pesar que vislumbra, ainda assim, uma saída luminosa. Façam atenção. BS
