Quando o mundo lá fora nos diz (constantemente) que não somos bem-vindos, uma das formas de responder-lhe é criar o nosso próprio universo e, a partir daí, reconstruir essa nossa relação com o exterior. DEBBY FRIDAY foi fazendo isso à medida que a idade lhe foi cedendo ferramentas, mas GOOD LUCK, o álbum de estreia com o selo da Sub Pop, soa como a maior aproximação à materialização dessa ideia: um híbrido e experimental conjunto de canções em modo coming of age que tanto devem ao industrial pregado por JPEGMAFIA (escute-se “WAKE UP”) como aos territórios r&b (em “SO HARD TO TELL” garante-nos, sem nunca o verbalizar, que pode chegar ao patamar que Fousheé alcançou), ou ainda à música de dança com apelo pop (de “I GOT IT” retiramos que, se quisesse, faria melhor de Beyoncé do que Chlöe).
Para chegar a esta lucidez (que surge por vezes distorcida ou fantasiada por… questões criativas), a artista (que nasceu na Nigéria e cresceu no Canadá, país onde reside actualmente) encontrou locais de refúgio na vida nocturna-clubbing-DJing. No entanto, os portos seguros transformaram-se em lugares de desconforto e a criação de música passou a funcionar como escape, juntando-lhe outras valências multidisciplinares (como, por exemplo, as de realizadora e astróloga) para se encontrar a si mesma no meio da multidão (ou das diferentes comunidades). Antes de se atirar ao seu longa-duração de estreia, os EPs BITCHPUNK (2018) e DEATH DRIVE (2019) foram as suas purgas em campo aberto, duas formas de se compreender (com muito barulho à mistura) e de nos dar pistas sobre onde estava a sua cabeça.
Em suma: os fãs de Nine Inch Nails e da editora Deathbomb Arc precisam mesmo de estar atentos a DEBBY FRIDAY. Aos restantes: se procuram uma verdadeira força criativa, ela está aqui. Boa sorte a todos. (Alexandre Ribeiro)