Our Lady of Pleasures nasceu numa viagem de comboio. O corpo avisou-me que seria impossível adiar por mais tempo uma necessidade, cuja razão de ser ainda hoje desconheço, e por tê-la escutado nasceu um álbum. Gravámos na última semana de agosto de 2022 e, apenas uns meses depois, aquando de uma das primeiras críticas que recebi sobre o projeto, pude compreender um pouco mais sobre o aviso que me fora dado. “Parece aqui existir uma inocência” disseram-me. O Sousa tornara-se pai há poucos meses; eu e o Diogo estávamos prestes a desistir da universidade, enquanto o Fortunato e o João estavam prestes a ingressar; o Hasselberg estava enredado em novas poéticas e o Bernardo, que desempenhara muito mais do que o esperado pelo responsável de uma gravação, tecia novas teias familiares. Era a inocência da necessidade. E tudo isto fora um momento de partilha, aquilo que cabe a cada um na divisão do seu próprio excesso. Sobre a música que vão ouvir, penso que esta impressão será das mais esclarecedoras. Talvez não tanto sobre como soa, mas sobre quem a toca. (Longo, Abril 2023)