Dois anos volvidos após a erupção de Fountain, as réplicas ainda se fazem sentir. Afinal, a artista norte-americana assinou um disco chave nos dias de hoje, espécie de clássico contemporâneo e admirável mundo novo. Uma brilhante coleção de composições inteiramente vocais, cuja verdadeira natureza permanece ainda (e sempre) incógnita. É precisamente nesse estado híbrido da existência das coisas que Lyra Pramuk se entranha. Entre fios elétricos descarnados e plantas em fotosíntese, o sagrado e o profano andam lado a lado, como uma pintura de Bosch vista por um caleidoscópio. Pramuk opera deste modo sobre uma linguagem irremediavelmente multi-processada, mas nem por isso filtrada de emoção ou nervo. Por extensão, algo próximo de uma expressão pós-humana.
A proposta de metamorfose foi escutada e em 2021 surge Delta. Nesta segunda instalação, as canções de outrora receberam novas roupagens estéticas e outras percepções angulares. Para isso as peças foram trabalhadas em conjunto com gente como Caterina Barbieri, Ben Frost, Eris Drew ou Gabber Modus Operandi, entre outros nomes estelares. Ganhou-se uma palete de novas cores e formas que tanto sentido faz nesta demanda de Pramuk pelo divino em constante movimento. Neste exercício colectivo, a exploração do tema da identidade é explorado aos seus limites. Os ensinamento de Genesis P. Orridge moldados num fluxo sonora onde cabem orquestrações lânguidas, ritmos ascendentes ou haikus fragmentados; elementos dispersos, seguindo uma harmonia de caos e encontro de opostos. Só assim se parece alcançar o exótico.
Em palco estas e outras revelações tomam vida diante de nós. Uma noite que se antevê especial. NA