Em tempos de mudança, faz sentido ouvir música que acompanha essa mudança. A folk foi sempre nesse sentido, contudo, o que os Nap Eyes fazem, e sempre fizeram, nunca foi bem folk, mas um estudo – e a palavra correcta é mesmo essa, “estudo” – não linear de como nos podemos abstrair dessa ideia. Da ideia de folk enquanto coisa concreta, balizada. Pode ser um enigma, algo que começa numa ponta e termina noutra, com várias voltas pelo meio.
Nigel Chapman, Brad Loughead, Josh Salter e Seamus Dalton começaram a tocar juntos há pouco mais de dez anos em Halifax, no Canadá. Lançaram até hoje cinco álbuns, o último, The Neon Gate (Paradise Of Bachelors), editado no outono de 2024, quebrou um silêncio de quatro anos e reforça esta ideia de como quebrar as evidências em território seguro, ou seja, como é que isto pode soar a uma coisa que é mais do que voz, guitarra, baixo, bateria. Por isso, a folk dos Nap Eyes é mais uma coisa de papel, é um sinal contínuo de que as coisas estão a mudar, para nós, para eles, dentro de uma canção. As narrativas que Chapman cantam exploram ideias inesperadas, misturam filosofia, física e videojogos, sem que qualquer um dos elementos seja aquilo que achamos que é, mas algo não-linear, que quer fugir aos avisos dos sinais de trânsito.
Verdade: hoje queremos encontrar uma revolução em qualquer canto. Queremos que aquilo que ouvimos, vemos, ou até os amigos com quem passamos o tempo, justifiquem esse investimento. Porque nos habituamos a esta ideia, que o nosso tempo é valioso, um investimento. E as coisas têm de dar a qualquer lado. Com isso em mente, a música dos Nap Eyes não é uma revolução, tem pouco de novo. Porém, essa ausência de novidade, explosão imediata, é compensada pela imprevisibilidade, pela forma como uma música pop, de repente, deixa entrar uma guitarra que vem de outro lugar e fica ali colocada, como se estivesse a viver noutra canção. Mas não, está ali. E nós construímos ou desconstruímos essa ideia conforme quisermos. Os Nap Eyes dão-nos as ferramentas para vivermos as canções deles como quisermos. Se quisermos que seja essa revolução, também pode ser. Mas preferimos que seja só coisa de fascínio calmo. Para amar à espera enquanto o verão não chega. AS
