É em tons sépia que percepcionamos a pop em realidade alterada de Tara Clerkin Trio. Existe uma linha retro-futurista que percorre gentilmente a genética do grupo de Bristol, cuja elegância e irreverência das expressões, remete-os para uma cartografia musical distante. As canções languidas e minimalistas respiram espaço e forma, como se se tratasse de dar vida a uma tela em branco. Recorrendo ao clarinete, percussão, sintetizadores, voz e pedais de efeitos diversos, movem-se nas diversas perpendiculares do jazz – ora em forma mais incendiária, ora mais calorosa ou até numa versão lenta e turva das memórias do acid jazz. A suave electrónica desviante que também se faz apresentar, discreta. Originários da urbe que apresentou o trip-hop ao mundo, neles a herança paira com orgulho, mas como semente para algo mais e não como estado final. Intrigantes como sempre.
O destaque em redor do álbum homónimo, saído o ano passado, apenas veio a acelerar o boca a boca que já circulava os Clerkin Trio. Pouco antes, In Spring já dera motivos mais que suficientes para nos envolver neste maravilhoso viveiro onírico em constante (des)construção. Do psicadelismo doce dos My Bloody Valentine, ao surrealismo orquestral dos Penguin Cafe Orchestra ou Julia Holter, também o eco de Arthur Russell faz a sua regência espiritual em cada pormenor. Contudo, a familiaridade com a música de Tara Clerkin Trio é simultaneamente um facto e uma falácia. Se por um lado estes e outros nomes formativos visitam a experiência, por outro depressa se evaporam, dando lugar a outras manifestações, inesperadas e exóticas. Esta sensação de deslocalização é então o ponto ideal para a banda se encontrar consigo mesma – e ela connosco.
Um brilhante labirinto sonoro que agora se irá revelar no palco da Zé dos Bois. NA