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Concertos

Tara Clerkin Trio ⟡ RAW SUN

sex25.02.2222:00
Galeria Zé dos Bois


© Fabíola

Tara Clerkin Trio

É em tons sépia que percepcionamos a pop em realidade alterada de Tara Clerkin Trio. Existe uma linha retro-futurista que percorre gentilmente a genética do grupo de Bristol, cuja elegância e irreverência das expressões, remete-os para uma cartografia musical distante. As canções languidas e minimalistas respiram espaço e forma, como se se tratasse de dar vida a uma tela em branco. Recorrendo ao clarinete, percussão, sintetizadores, voz e pedais de efeitos diversos, movem-se nas diversas perpendiculares do jazz – ora em forma mais incendiária, ora mais calorosa ou até numa versão lenta e turva das memórias do acid jazz. A suave electrónica desviante que também se faz apresentar, discreta. Originários da urbe que apresentou o trip-hop ao mundo, neles a herança paira com orgulho, mas como semente para algo mais e não como estado final. Intrigantes como sempre.

O destaque em redor do álbum homónimo, saído o ano passado, apenas veio a acelerar o boca a boca que já circulava os Clerkin Trio. Pouco antes, In Spring já dera motivos mais que suficientes para nos envolver neste maravilhoso viveiro onírico em constante (des)construção. Do psicadelismo doce dos My Bloody Valentine, ao surrealismo orquestral dos Penguin Cafe Orchestra ou Julia Holter, também o eco de Arthur Russell faz a sua regência espiritual em cada pormenor. Contudo, a familiaridade com a música de Tara Clerkin Trio é simultaneamente um facto e uma falácia. Se por um lado estes e outros nomes formativos visitam a experiência, por outro depressa se evaporam, dando lugar a outras manifestações, inesperadas e exóticas. Esta sensação de deslocalização é então o ponto ideal para a banda se encontrar consigo mesma – e ela connosco.
Um brilhante labirinto sonoro que agora se irá revelar no palco da Zé dos Bois. NA

RAW SUN

Desse frutífero diálogo entre o eletrónico e o acústico, nasce um trabalho assente na improvisação e no desafio pessoal. O músico e compositor Pedro Almiro, residente em Berlim, busca novas expressões para a sua bateria assim como abordagens pouco convencionais. Com um percurso académico em redor do instrumento, e em particular da estética jazz, em RAW SUN reconhecemos a visão de quem também encontra fascínio pelo minimalismo – e todas as suas demais possibilidades.
O EP Iodine Eye demonstrou essa visão pal plus, capaz de identificar, trabalhar e maximizar detalhes ou ideias que se apresentam simples, para logo alcançar algo maior. Também com a sua banda Hibylo o papel da percussão parece transmutar-se, tomando espaços e tempos difíceis de prever. Tudo parece vir junto, a um reencontro profundo com o ritmo, sem barreiras.
Numa altura em que Almiro se prepara para mais uma nova edição, este concerto é um pertinente convite a sentir estas peças sonoras na primeira pessoa; e com direito a uma sonoridade de alta definição que o palco geralmente propõe. NA

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