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Música
Concertos

AfroBaile c/ Tonecas Prazeres ⟡ Celeste Mariposa

sáb10.03.1822:00
Galeria Zé dos Bois


O AfroBaile é a celebração cultural dos PALOP, a parte mais visível de CelesteMariposa, pretendendo juntar todo o seu património musical e colocá-lo no centro de todas as atenções, como merece! É o resultado de uma pesquisa intensa, desde 2009, que permitiu não só acumular material de estudo (discos, cassetes, CDs, livros e amigos) como também conhecimento mais profundo da história e estrutura das centenas de estilos musicais dos PALOP, dos seus bailes, ginga, costumes, dialectos e preocupações.

“Veio para Portugal em 1984, com uma bolsa, para estudar Engenharia Civil no Instituto Superior Técnico em Lisboa. O objetivo era tirar o curso e tornar-se no senhor engenheiro António Prazeres. Mas a vida, ou melhor dizendo, a música, um bichinho que já trazia de África, trocou-lhe as voltas e São Tomé perdeu um engenheiro, mas Portugal, e o mundo, ganhou Tonecas Prazeres, que tem tido como missão divulgar as raízes musicais da sua terra. Arrependido? “Ter uma valência académica é bom em termos profissionais se se exercer a profissão e para o status também, senhor engenheiro António Prazeres e tal… Mas agora sou mais feliz como Tonecas. Não digo que a música preencheu a 100% as minhas aspirações, sofri muito, tenho sofrido muito, uma pessoa para ter notoriedade tem de trabalhar muito. E há a agravante de sermos trabalhadores a recibos verdes e muitas vezes nem isso. E depois temos dificuldades em ter rendimentos para cobrir a Segurança Social, as Finanças…”

Mas vamos começar pelo início. Tonecas Prazeres nasceu a 5 de maio de 1963 no Príncipe, a ilha mais pequena de São Tomé e Príncipe. Aos 5 anos, mudou-se com a família para Angola, para a região de Benguela, depois de o pai, um técnico de Finanças, ter ganho um concurso administrativo. Fez por lá a escola primária, mas regressaram a casa depois da independência em 1976. O regresso ao Príncipe foi curto, pois teve de mudar-se para São Tomé quando entrou para o liceu. “Fui para um lar de estudantes, onde havia lá sempre viola e a malta de lá, a malta do Príncipe tocava. Havia um lar em São Tomé específico para os estudantes que vinham do Príncipe. Naquele lar havia todas as condições para se aprender a tocar, embora eu já vinha com alguma tendência desde Angola. O meu irmão mais velho tocava num grupo e levava sempre as violas para casa”. Foi também nesta época, por volta de 1981, que, sob a orientação do maestro Felício Mendes, fez parte dos Canucos das Ilhas Verdes. “Fazíamos grande sucesso porque eram uns miúdos a tocar”, recorda. Em novembro de 1984, vem finalmente para Lisboa. “Uma pessoa faz a tropa, depois vai para o Técnico e começa a levar com aquelas matemáticas todas. Foi complicado, mas foi giro. Nunca tinha estado em Portugal, foi um choque”, recorda entre risos. Fez o primeiro ano, o segundo, e entretanto começou a tocar no Bairro Alto. O curso acabou por ser abandonado ao terceiro ano, mas ainda ficou mais uns anos no Técnico como funcionário.

Nesse percurso do Bairro Alto, diz que em 87 ou 88, cruzou-se com Mariza. “Ela tinha uns 13 anos, estava a começar e a mãe pediu-me para a acompanhar”, conta. A cantora, então uma adolescente, chegou a fazer anos mais tarde os coros da Banda Dexa, o grupo de Tonecas Prazeres (…) Nesse mesmo ano, esteve em Roma, tendo tocado para o papa João Paulo II no âmbito do programa Mundial da Juventude UNIV 90. “Um dia fiquei sem rolo para a máquina fotográfica e fui para as escadarias da Praça de Espanha, abri a viola, eu mais um amigo, metemos os óculos escuros e começámos a tocar música africana, era só liras a cair… Deu para comprarmos rolos e umas t-shirts…”

O seu disco de estreia Tonecas Prazeres Afrovungo Projet, surgiu em 2015, projeto que já preparava há uma década, mas que, por falta de apoios, só viu a luz graças a um empréstimo bancário. “Com o disco consegui o que queria, ir buscar raízes, fui buscar temas antigos, um deles tem quase 80 anos, temas das avós que eu fui resgatar e dei uma roupagem nova”. – Entrevista ao DN a 3 de Agosto de 2017

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