Em ‘As Mulheres Que Não Veremos Duas Vezes – um ensaio sobre Minetti, retrato do artista quando velho’, Mónica Calle volta a criar uma cartografia da cidade, tal como fez há 10 anos após a saída da Casa Conveniente do Cais Sodré. Sem um espaço de criação desde 2014, Calle e a Casa Conveniente continuam a explorar a relação do trabalho performático e artístico com os diferentes contextos de uma cidade.
Partindo dos mesmos materiais: Minetti de Thomas Bernhard, Rei Lear de Shakespeare e da música clássica, e com interpretação de Laura Garcia, Mafalda Jara e Marta Felix, Calle reflete sobre a solidão e sacrifício do artista sem lugar, recuperando uma forte característica do seu discurso artístico que confronta o espaço interior e do teatro com o exterior e a rua – a arte e a realidade quotidiana.
“O artista só é um verdadeiro artista se for louco dos pés à cabeça, se se entregar totalmente à loucura, transformando-a no seu método radical. E o mundo que pense e escreva o que quiser. Não pode é ser medricas. O artista não pode ser um medricas, é óbvio. A sociedade cortou-me as pernas ao tirar-me o palco, puseram-me um processo em cima e arruinaram a minha vida. Mas a minha natureza de artista nada sofreu com essa sacanice, pelo contrário. Mas o esforço que isso custa: ser artista na mansarda (sótão) da minha irmã.” Minetti, retrato do artista quando velho.