“A drumset sits on the stage unaccompanied during these concerts. There is naturally an anticipation for a specific kind of music because of this, and at that a music on spec no one really wants to listen to…? I don’t even really like drum solos funnily enough…”
Apesar do sarcasmo latente, que não será senão apenas honestidade, vale a pena sacar esta citação de Eli Keszler presente no Bandcamp de ‘LIVE 2’ para situar esta sua aparição. Segundo volume de uma série planeada de gravações ao vivo e a solo do próprio, aqui o encontramos na forma mais despida e eminentemente presente, reflexo tangível da sua capacidade de arrancar à bateria e à percussão todo um manancial de soluções e enredos rítmicos, melódicos e tímbricos plenos de valência e visão. Porque Keszler nunca foi “só” um baterista ou percussionista. Antes um artista multifacetado cujo trabalho entre a composição, a instalação e as artes visuais se liga entre si de uma forma tão natural quanto intrincada e continuamente inquisitiva. Acumulando já cerca de duas décadas de ofício dedicado, o músico norte-americano tem desenhado um perfil notório, não só no seu trabalho solitário – o que por si só abrange uma panóplia de formas e variações amplamente expansiva -, como na composição de bandas sonoras e peças comissariadas por entidades como a Icelandic Symphony Orchestra ou So Percussion ou na tecelagem de uma rede de colaborações e aparições densa que vão desde a participação no celebrado MYRIAD de Oneohtrix Point Never ou em Rare Silk Uncut Wood de Laurel Halo a encontros em pé de igualdade com Rashad Becker, Jandek, Keith Fullerton Whitman ou Oren Ambarchi – ‘Alps’ chegou este ano a uma década de existência e continua incrível, já agora.
De resto, este último será talvez, talvez o nome contemporâneo mais análogo ao de Keszler no que diz respeito à esfera de acção, mas cada um com sua panorâmica. Improvisação, jazz, ambientalismo, electrónica, drone e todo um campo indefinível e mutável entre estas (e outras) linguagens que tem sido explorado e oferecido através de editoras como a PAN, Empty Editions, ESP-Disk ou Shelter Press: do fogo rítmico avassalador e quase espectral – Xenakis iria aprovar – de ‘Oxtirn’ à polirritmia hipnótica de ‘Last Signs of Speed’, do espaço cerrado das cordas e percussão de ‘Cold Pin’ à elegância em constante mutação de ‘Stadium’ e, voltando ao início deste texto, aos solos de ‘LIVE’ há todo um mundo aparentemente inesgotável a ser ainda descoberto por Keszler. Cá estaremos para o acompanhar. Que benção. BS