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Concertos

Elias Rønnenfelt ‘Heavy Glory’ ⟡ Gabriel Ferrandini

qua19.02.2521:00
Galeria Zé dos Bois


Elias ©Ilaria Ieie
Gabriel @LPD

Elias Rønnenfelt

Parte do magnetismo do frontman dos Iceage – e já o confirmámos por diversas vezes ao vivo – tem a ver com uma combinação explosiva de confiança e arrogância benigna que exala da sua pessoa. Parte disso foi o que nos atraiu para os Iceage do início e para as suas diversas transformações ao longo da década seguinte, como se essa afirmação pessoal do seu vocalista contaminasse e nos fizesse acreditar piamente no que eles eram, ou queriam ser. É, também, por isso que quando lemos que Elias se apresenta como músico e poeta não estranhamos. Não é por nos convencer, há um fundo de verdade nisso. Nem que seja pela poesia via pose. Agora, depois dos trinta anos, editou o seu primeiro álbum a solo. É “Heavy Glory” que traz a Lisboa em Fevereiro.

O que encontramos a solo é mais uma das tangências da sua personalidade, disposto a deslocar-se onde for para transmitir uma ideia, Rønnenfelt apresenta o amor e o apocalipse alcoólico via americana e um desvio para o country, mais metódico do que mimicado. As canções de “Heavy Glory” não têm dúvidas como por vezes encontramos nesse roteiro musical, mas estão cheias de determinação e evocam certezas com eloquência, como se o rebelde, o frontman dos Iceage, quisesse crescer mas ele próprio não o deixasse. É um homem preso na sua própria autossatisfação e é isso que contempla e é contemplado na forma como trasveste canções como “Close”, “Stalker” ou “No Place To Fall”. Enquanto outros amarguram nessa prisão, Elias Rønnenfelt está fora disso, reforça a presença da sua pessoa em cada verso, num misto de hedonismo e autopreservação, enquanto canta, como sempre cantou, com o narcisismo brutal que encantou uma (bem, mais do que uma) geração. Enquanto muitos músicos cantam para sobreviver, Elias Rønnenfelt escreve, canta e compõe para preservar uma visão única que tem de si. No tempo da exaltação do individualismo e do narcisismo de bolso, tem que se achar bonito alguém que o faz tão bem pelas vias clássicas da coisa. Sem rodeios ou falsidades, é exactamente tudo aquilo que se propõe a ser, Elias Rønnenfelt é um homem a olhar-se ao espelho. AS

Gabriel Ferrandini

Baterista e compositor. Iniciou a prática do instrumento ligado ao free jazz e à música improvisada e rapidamente demonstrou a complexidade da sua mente artística — no seu caso, não se pode apenas falar da técnica e interpretação do instrumento. O seu caminho é muito maior, o que também se revelou nos seus discos Volúpias e Hair of the Dog. Ferrandini transitou da forma enérgica de tocar, com movimentos técnicos muito precisos, para, em Volúpias, exprimir um ambiente mais melódico, com alguma dose de poesia e romantismo, algo que Hair of the Dog veio contrastar, com uma tónica existencial, reflexiva e cerebral, mentalmente mais densa, e onde é obsessivamente analisada a acústica, talvez sob a influência de mentores como Stockhausen. Ferrandini integra o Rodrigo Amado Motion Trio e o Red Trio; colaborou com nomes como Alexandre Estrela, Alexander von Schlippenbach, Coro Gulbenkian, Evan Parker, Peter Evans, Hilary Woods, RP Boo, Thurston Moore, entre outros. Mais recentemente, tem colaborado com o encenador e dramaturgo Tiago Rodrigues em espetáculos em vários países.

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