ENXOVAL
Considero que o meu trabalho seja talvez uma resposta à terra.
E se não uma resposta à terra, talvez seja um testemunho de uma conversa com ela.
Uma conversa com o espaço e o tempo que me acolhe, com as sensações que se desencadeiam no meu corpo. Interessa-me que o espaço seja o principal influenciador da minha prática, que a paisagem que me rodeia seja aquela que me guia e impulsiona à exploração. A curiosidade toma aqui um grande papel no desenvolvimento do meu trabalho. Existe uma necessidade de fazer acontecer e de viver o próprio acontecimento da criação, do seu processo. Interessa-me como o espaço cria uma motivação e necessidade no meu corpo e no meu espírito, e acima de tudo o papel que a sensibilidade vai ocupar nesta necessidade.
Daí ter interesse por um nomadismo inerente à minha prática, existe uma grande vontade de conhecer o meu próprio trabalho, de o poder descobrir através dos diferentes espaços que ocupo e durante o seu processo de construção quais as suas necessidades depois de experienciar um determinado tempo e espaço. Interessa-me saber até onde ela pode ir e acima de tudo conhecê-la uma e outra vez, viver a experiência do seu acontecimento.
Prometo deitar mais lenha para a fogueira
Arder e fazer arder.
Devia ser sobre essa queimada.
De recolher os ramos necessários
Juntar o corpo com a noite
Perto das estrelas
E no escuro lançar a chama
Vê-la dançante e dançar ao redor dela.
Invocar as bruxas e com elas lançar feitiços.
Rasgar a pele e partilhar o que mora dentro
Dar espaço ao desejo e à vontade
De ser
Como se tiver de ser.
Num rasgo contínuo.
Rasgar e fazer rasgar.