Durante anos, a noite de 25 de Dezembro foi um grito de exclamação na ZDB com a tradicional sessão protagonizada por The Legendary Tigerman. Em 2013, o espírito mantém-se mas com uma nova convidada. E como a quadra é familiar, a noite será conduzida por Lula Pena, uma presença de luxo que, por esta altura, deverá dispensar longas introduções. Oportunidade rara para testemunhar novas pistas sobre um próximo registo. Figura insondável que carrega consigo uma aura única e que se poderia dizer mítica, Lula Pena assegurou com a calma dos deuses um lugar só seu em contracorrente com qualquer concepção daquilo que se define levianamente como uma carreira. Tendo-se estreado em 1998 com ‘Phados’, antes de entrar num regime de quase silêncio, reaparece 12 anos depois com o divinal ‘Troubadour’. Uma sabática da esfera pública, que ao ritmo de pouco mais de meia canção por ano, se veio a revelar de uma parcimoniosa maturação na identidade que lhe é hoje intrínseca. Senhora de uma presença e música tão intangíveis quanto telúricas, Lula Pena convoca para si os fantasmas do fado, da bossanova ou do tango, numa geografia de cartografia impossível materializada em canções assentes em recursos mínimos – voz e guitarra – que se estendem até um plano – anímico? – profundamente singular. Canções que respiram, de silêncios reveladores, conduzidas por um canto assombroso e assombrado, que se assumem nesta noite carregada de simbolismos – por muito vagos ou mesmo vazios que possam ser – razão de crença infindável, onde esta pode muito bem já não existir. BS