Duo formado pela lituana Indrė Jurgelevičiūtė e pelo belga Bert Cools, com ligação forte ao cancioneiro condensado do ar e da terra de origem dessa primeira, Merope invoca no seu estado mais puro, memórias, paisagens, mitos e filosofias ancestrais e contemporâneas. Num acerto simbiótico entre instrumentos acústicos e cânticos do folclore lituano, guitarra, sintetizadores, percussões variadas e um uso muito consciente e certeiro da electrónica, partindo de raízes anciãs para as entrelaçar numa trama onde ambientalismo, jazz, kösmische e minimalismo habitam uma mesma paisagem viva de ancestralidade e futurismo. Tudo muito natural e pleno de humanidade, não completamente afastada da aura mais romântica da editora Fonal – Islaja ou Paavoharju -, dos espíritos de Fursaxa ou das visões de Kara-Lis Coverdale, mas no seu próprio mundo.
Assentando no som encantado do kanklės – instrumento de cordas originário da região Báltica – de Jurgelevičiūtė, ao qual acorre sem atropelos todo o manancial instrumental acima, as canções de Merope vibram com uma delicadeza actuante, como que em suspensão, explorando a herança harmónica primordial da Lituânia em discos tão discretamente marcantes como ‘Nakte’ ou ‘Salos’. ‘Vėjula’ lançado em 2024, continua a associação do duo à STROOM – editora cada vez mais pertinente nos dias que correm – e expande a palete essencial delineada em registos anteriores. Trazendo para o elenco nomes como Bill Frisell ou Laraaji, ‘Vėjula’ abre uma panorâmica sobre a sua música, sem cortar o cordão umbilical, através de uma travessia por entre uma folk mais descarnada – Lopšinė -, ascensão espiritual – Namopi -, fantasmas de melodias passadas em conjura electro-acústica – Spindulė – ou electrónica vaporosa – Rana – sem nunca perder o seu foco e hipnose. Mágico. BS