Odiados pelos snobs do jazz e temidos pelos tontos da pop, os Wolf Eyes (ainda) representam o maravilhoso fulgor do underground americano: desabrido, juvenil, violento. Sempre pronto a fazer chinfrim e a pontapear a reielficação da música (qualquer música). É verdade que, enquanto banda, vai para três anos que andam calados. Mas as suas encarnações individuais continuam bem vivas e, diga-se, não perdem em comparação: a energia, agora mais determinada e elegante, continua por lá e é um antídoto perfeito para a flacidez, para a papa sem proteínas que tomou conta dos sons dos Estados Unidos (vocês sabem do que é que eu estou a falar). Encontrar em palco Nate Young significa, por isso, assistir a uma grande concerto. Está dito e com propriedade. Este filho do Michigan não é o mais barulhento dos Wolf Eyes, mas é sem dúvidas, o mais “ameaçador”. Basta-lhe um “loop”, algumas batidas, a assistência humilde da electrónica, e erige nuvens lentas de medo, suspense, drama. Sim, faz música que age sobre as emoções, sem escapismos ou arrogância. O que lhe interessa é criar atmosferas, daquelas que nos contaminam com um silvo, um eco, uma imagem. Ouvem-se tradições nas costas de Nate Young. O ruído da Mute Records (e as ruínas da Europa do Pós-Guerra), o experimentalismo “metálico” dos Factrix, o cinema de terror, a paisagem pós-industrial de Detroit e outras cidades (com os seus vazios parques de estacionamento). E há um território imenso diante da sua música, como o fabuloso “Stay Asleep – Regression Vol. 2,” permite descobrir (foi editado em Outubro do ano passado pela NNA Tapes e, nem por acaso, com a colaboração dos restantes Wolf Eyes, John Olson e Aaron Dilloway). Ora, o concerto desta noite será apenas uma confirmação irresistível desse futuro. JM
