Negro (Negro Live set), Rossa (RSRJ RJRS) e Ruido (Antes de que desaparezca nuestro mundo, escribámoslo) são três peças que de forma diferenciada exploram momentos de desobediência subjectiva e colectiva. Como eixo principal, partilham a fuga ao relato discursivo, sustentadas numa materialidade estética do áudio e do texto, no som e sentido que lhe são associados. A Primeira das peças, NEGRO, fala-nos do desejo enquanto força motriz a partir de poemas que se apresentam numa linguagem sofisticada, trechos de um manifesto político em forma de poema, videoclips e loops líricos extremados. A Segunda, leva ao extremo as classificações binárias de género e identidade para as dissolver e conduzir ao delírio por via da combinatória (ao estilo literário de Gertrude Stein ou de composição musical de Steve Reich); e a Terceira toma como ponto de partida um relato antigo sobre uma gigantesca tormenta (cujo epicentro decorreu entre a Galiza e Portugal) para, num deslizar do sentido inicial de algumas palavras escolhidas e da sua sonoridade, a converter numa nova história acerca das mudanças no mundo que o ano das grandes revoltas de 2011 nos fizeram entrever. Independentemente dos sentidos pré-gravados e dos tons homogeneizados pelos discursos de ordem, vamos assistir a uma experiência de escuta abrindo passagem no corpo. Desejo + Dissolução + Mudança > uma imaginação.
María Salgado (1984) e Fran MM Cabeza de Vaca (1976) trabalham juntxs em Madrid desde 2012. O seu trabalho comum explora o audiotexto no cruzamento entre a linguagem, o som, a música, a poesia e a performance. As três peças que apresentam em estreia nacional na Zé Dos Bois são trechos que formam parte de três das suas obras cénicas: Hacía un ruido, Jinete Último Reino Frag. 3 y Jinete Último Reino Frag. 2; apresentadas em contextos tão diferentes como o Museo Reina Sofía, Espacio Naranjo, MACBA, CDN Teatro Valle Inclán, 16 Beaver, Moby Dick ou el Mercat de les Flors.
