Paisagens Políticas propõe uma viagem por múltiplas geografias cinematográficas do continente sul americano. Dos anos sessenta do século passado até aos nossos dias, do Brasil à Argentina, passando por México, Chile e Equador, e fazendo um desvio por Paris e Califórnia, o ciclo conjuga quatro gestos plurais que lançam uma dilatação topográfica ao corpo do olhar da história canónica do cinema.
Ao questionar os limites semânticos e fronteiriços do termo paisagem, as realizadoras Ana Vaz, Alexandra Cuesta, Valentina Pelayo Atilano, Helena Solberg, Malena Szlam, os realizadores João Vieira Torres e Luiz Rosemberg Filho e o Colectivo Los Ingrávidos inscrevem a experimentação estético-formal da linguagem cinematográfica numa interrogação epistémica, ética e política da relação do cinema com o mundo e as histórias, procurando revelar outros e novos eixos de reflexão veiculados pela imagem em movimento. Através de reflexões e expressões múltiplas, confrontam-se os modelos de representação vigentes a respeito de problemáticas como o passado e o presente colonial, violência de género, migração, ditaduras políticas e instituições de cariz repressivo.
Daí resulta uma proposta de transformação radical da práxis cinematográfica, pautada por um modus operandi patriarcal e um dispositivo técnico com motivos e efeitos colonizadores. Fragmentando o conceito de subjectividade na sua acepção ontológica ocidental, a paisagem liberta-se enfim de uma inteligibilidade estática para formas ético-políticas que se constituem e reconstituem a partir de outros e novos territórios, corpos, rostos, vozes e gestos.
A convite de Cátia Rodrigues, os textos das folhas de sala das três primeiras sessões são da autoria de Laila Nunez, Raquel Schefer e Teresa Vieira.