Para uma ciência transitória do indiscernível: a Abissologia é um projecto de João Maria Gusmão e Pedro Paiva, com curadoria de Natxo Checa, produzido e apresentado pela ZDB na Galeria do Torreão Nascente da Cordoaria Nacional de Lisboa da Câmara Municipal de Lisboa.
Composto por obras criadas em diferentes suportes como filme em 16mm, escultura, instalação e fotografia, este ensaio da dupla de artistas introduz um novo modelo ficcional decorrente de temas até então apenas esboçados no anterior projecto intitulado Eflúvio Magnético.
A Abissologia, ou a ciência que estuda o abismo, é referente a um neologismo encontrado no livro de René Daumal La Grande Beuverie, romance satírico com contornos metafísicos. A descoberta deste termo literário, no contexto da prática artística de João Maria Gusmão e Pedro Paiva, reflecte-se numa ficção que se detém na composição literária de uma ciência específica dos corpos pensada em função da condição fenomenológica/ontológica do mínimo visível – o que quase não se vê ou o que quase não tem existência para um observador – seja na visão eclipsada do olho, no instantâneo de uma explosão ou no movimento complexo da água. Digamos que aquele que estuda a ciência do abismo tem nas singularidades indiscerníveis o seu mais alto interesse de investigação. À semelhança da teoria desenvolvida pelos atomistas pré-socráticos, as teses Abissologistas referem-se a dados discretos de uma certa metafísica para se aproximarem com o máximo de precaução da profundidade do real. Podemos enquadrar a Abissologia como uma disciplina com raízes tão diversas como a poesia materialista de Alberto Caeiro, a filosofia de Epicuro e Lucrécio, a Patafísica de Alfred Jarry, o ocultismo de Gurdjieff e Ouspensky, as imagens científicas de Harold Edgerton ou zootrope de Ètienne-Jules Marey, as experiências em câmaras de glaciares de Michel Siffre, ou ainda, as construções filosófico-literárias de Gustav Meyrink, etc…
No seguimento da relação entre a ZDB e os artistas, que decorre desde 2001, este projecto começou a ser desenhado após uma residência de criação em Angola, iniciando um processo de trabalho que viria a ser adoptado e prosseguido noutras viagens de criação e produção. Contando com a colaboração de parceiros como a Trienal de Luanda, a Fundação Inhotim ou a Fundação Ilídio Pinho, a Abissologia foi desenvolvida durante deslocações também ao Chile, Argentina, Brasil e Marrocos.
Para uma ciência transitória do indiscernível: a Abissologia
— João Maria Gusmão e Pedro Paiva
João Maria Gusmão + Pedro Paiva
João Maria Gusmão (n. 1979, Lisboa) e Pedro Paiva (n. 1977, Lisboa) são formados em Pintura pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa e expõem em conjunto desde 2001. Foram distinguidos com o Prémio EDP Novos Artistas, em 2004, e representaram Portugal na Bienal de Veneza de 2009, com a curadoria de Natxo Checa. Realizaram exposições individuais na Ikon Gallery, em Birmingham; no Mercer Union Centre for Contemporary Visual Art, em Toronto; no Kunstverein Hannover; no CCA Wattis Institute for Contemporary Arts, em São Francisco; no Museu de Arte Contemporâneo de Castilla y León, em Léon; no Museu do Chiado, em Lisboa; na Galeria Graça Brandão, em Lisboa; entre outras. Participaram ainda em diversas exposições colectivas, em Portugal e no estrangeiro, em que se destacam a 8ª Bienal de Gwangju, na Coreia do Sul; e a XXVII Bienal de São Paulo. As suas obras estão representadas nas colecções Tate Modern, MUDAM (Luxemburgo), MUSAC, GAM (Bergamo), Fundação de Serralves, Museu do Chiado, entre outras.