Para muitas daquelas pessoas que estiveram no Festival Paredes de Coura em 2003, uma das memórias mais queridas e ocasionalmente resgatadas em conversa é a de um Jim Black possuído no concerto de Carlos Bica e Azul, no palco do Jazz na Relva. Numa tarde que deixou muita gente pouco sintonizada com o jazz, a pensar se não estaria a perder qualquer coisa, foi a entrega e inventividade em roda livre do baterista norte-americano a deixar marcas mais profundas no concerto da banda que mantém já há mais de duas décadas com Carlos Bica e Frank Möbus. Depois disso, foram já inúmeras as vezes que pisou este país, não só com este trio, mas também como líder nos AlasNoAxis, como parte do quinteto de Peter Evans ou a solo. Um dos bateristas mais acarinhados por aqui – ou em todo o lado, na verdade – Black tem-se revelado sempre inesgotável na redescoberta do instrumento como força propulsora, melódica ou textural, alinhando a simbiose electro-acústica, passadas próximas do rock, a vertigem constante da fire music, abstracções rítmicas e a graciosidade da percussão, numa completude plena de visão, lirismo e energia. Ao longo de uma trajectória fértil, tem colaborado em proximidade com músicos como Tim Berne ou Chris Speed, e reaparece aqui naquele conluio sempre arriscado do duo de baterias. Risco esse que é aqui assumido como campo aberto para novas revelações em torno do instrumento. BS