Desde a sua formação em 2016, que Ricardo Jacinto (violoncelo), Nuno Morão (bateria) e Gonçalo Almeida (contrabaixo) têm testado as possibilidades narrativas que os seus instrumentos podem criar em conjunto. The Selva tem-se revelado o nome certo, se os indícios estavam lá no álbum homónimo de 2017 (Clean Feed), a ideia subjacente de mistura confirmou-se nos capítulos seguintes, “Canícula Rosa” (Clean Feed, 2019) e, sobretudo, com “Barbatrama” (Shhpuma, 2021), o álbum em conjunto com Machinefabriek. O entusiasmo nasce pela forma como entrelaçam diferentes géneros, sem a coisa se resumir a uma fórmula ou a uma simples tese de experimentação. A base acústica do projecto permite tentar várias possibilidades, seja por defeito o jazz, por ser o elemento mais presente e, sobretudo, aquele que muitas vezes se assemelha a uma raiz de tudo. Mas daí deriva para muitas coisas, seja laivos de música concreta, de folk, música de câmara contemporânea ou até pós-rock.
Com um quarto álbum em processo de criação (alguns dos novos temas poderão ser ouvidos nesta noite), The Selva, pela essência acústica e volume de produção, podem encaixar no arrume das associações fáceis como uns The Necks portugueses. Sabendo que é fácil ficar preso nas armadilhas das associações, o trio descarta essa possibilidade na própria música. Embora a natureza do imprevisível esteja lá no início de cada composição, a metamorfose dos géneros nos The Selva acontece de modo coordenado, embora sem previsibilidade. A coordenação permite a música respirar e ser respirada, viaja-se sem geografia ou limite para ambições e permite-se que se oiça com a inocência do inesperado: e cada ouvinte encontrará as características que lhe serão mais pessoais ou próximas do seu gosto em cada composição. Ou seja, há uma permanente vontade de inclusão na música dos The Selva. Seis anos a desbastar caminho. AS