Ao longo dos últimos anos tornou-se inegável a presença cada vez mais assumida do Jungle em pistas e ondas hertzianas um pouco por todo o lado. Não que este tenha alguma vez desaparecido, operando na sombra do pragmatismo rítmico Techstep do drum & bass mais bovino, imiscuindo as suas tropes em espaços que não seriam seus por direito opressor, em manobra de escape a um revival old school autofágico. Sempre vital. Se, como afirmou o saudoso Mark Fisher, retroactivamente e com algum pesar e desencanto em ‘Ghosts of My Life’ que esta era uma música que “soava” a um futuro que já não podia ser mais imaginado, podemos hoje vê-la como reflexo do presente, reordenando pontos temporais entre o passado e o futuro numa confusão abençoada que já não segue a progressão linear do hardcore continuum e salta geografias para fazer confluir coordenadas de outras latitudes e histórias como o footwork ou electrónicas em dissolução.
É o epicentro desse turbilhão criativo, ao lado de nomes como Sherelle, Nia Archives, Special Request ou Coco Bryce que encontramos Tim Reaper. Artista londrino que já há mais de uma década tem vindo a espalhar o gospel jungle, seja através da sua Future Retro London – nome mais do que apropriado ao que estamos a experienciar -, de inúmeros lançamentos em editoras como a Unknown to the Unknown, Parallax Recordings ou 7th Storey Projects, colaborações com artistas em sintonia como Dwarde ou Kloke e DJ Sets que atravessam décadas e géneros de música breakada e fluída, com uma precisão e sentido de descoberta inabaláveis. Contando com todo um rasto de feras que fazem pontes entre diversas facetas do género, da euforia inicial Hardcore ao negrume do ‘Ardkore da Metalheadz, das visões Afrofuturistas de 4 Hero ou A Guy Called Gerald ao rollers da Moving Shadow e detonações dubby na linha das produções mais devedoras da cultura Sound System de Dillinja – cf Warriors, Lion Heart – cruzando-as com géneros como Electro ou Hard-Step, numa estratégia honesta de colagem que nunca cai no embuste, sempre ao encontro de pontos de contacto e fricções. “Why did the lion got lost? ‘Cause Jungle is massive!” BS