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Música
Concertos

Clarissa Connelly ⟡ Vitória Vermelho

qua09.04.2521:00
Galeria Zé dos Bois


Clarissa Connelly ©Amy Gwatkin
Vitória Vermelho

Clarissa Connelly

O mundo antes de o conhecermos. A imensa era pré-registos históricos é para a escocesa um profundo mar de curiosidades cujo rasto tem vindo a analisar e a filtrar enquanto artista. Tarefa ainda e sempre em curso de busca e reconciliação entre esses tempos esquecidos – e estes tempos tão urgentes. Radicada na Dinamarca desde a sua infância, recorda o folclore celta entrelaçando-o com todo o universo ancestral nórdico. Na forma, tece canções intemporais, de semelhante qualidade féerica de Kate Bush ou Jenny Hval. Tendo estudado com Meredith Monk, não será de estranhar o hipnotismo que cria – levitando poeira em noite de lua cheia. Da complexa subtileza vocal, evoca mitos e projecta visões. Retira da acústica instrumental o musgo da sua música enquanto recorre à expressão eletrónica para salientar os sinais texturais que explora numa obra em movimento.

The Voyager surgiu a meio do surrealismo pandémico, num rasgo vital e telúrico para quem com ele se cruzou. Disco celebrado, dotado de uma noção de composição pop algo insular no seu tempo. Explorando as tensões harmónicas, de carga imagética intensa, parece resgatar invariavelmente uma infinita beleza nos detalhes; o tipo de sensibilidade capaz de transformar uma simples partícula de ideia num vasto manancial de transformações. O arrojo e encanto foi reconhecido pelo Nordic Prize Music enquanto Connely desenvolveu uma app chamada Vandrigen. Permitindo mapear localizações ancestrais remotas, bem além da informação massiva do sistema GPS, cada um desses locais foi visitado pela própria, num exercício de retrato sónico dessas paisagens. Tendo recentemente integrado no selo da Warp, World of Work toma inspiração das esferas do rock progressivo e do minimalismo, assim como da folk mais esotérica. Ao longo de doze peças surgem sinos, melodias a meia luz e a sensação de uma brisa marítima que apazigua a tormenta emocional e questionamento existencialista das letras. Um cancioneiro invulgar, atraído pelo caminho rumo ao desconhecido – e de alma aberta à matéria revelatória.

Conectando pontos similares a outras fabulosas como Astrid Sonne, ML Buch ou Julia Holter, é altura de World of Work saltar dos limites da escuta para uma experiência sensorial só possível neste formato ao vivo. Sem futurismos, e outros ismos, poderemos intuitivamente perceber que estamos a acompanhar um talento que ainda nos continuará a fascinar de modo exponencial. NA

Vitória Vermelho

Vitoria Vermelho é o nome artístico de Francisca Oliveira e resulta da fusão do seu nome favorito e um sobrenome que foi deixado para trás pela sua avó. Daí, nasce uma personagem musical intensa, cheia de emoções à flor da pele. Como se quer para um disco de estreia que acaba de ser editado.

Antes de lá chegar, Francisca fez as suas primeiras atuações com a escola de Jazz do Porto e viu-se em 2021/2022 perante os palcos televisivos no programa The Voice. Em 2023, desponta na cena musical portuense enquanto Vitoria Vermelho tendo já acumulado concertos em Paris, Porto e Lisboa onde já apresentou temas do seu álbum de estreia.

“Homónimo” é fruto da junção de canções escritas ao longo do período formativo da artista e que começaram como forma de terapia. Desde 2019 quando escreveu “Always” até 2024 com o tema “Visão”, passaram vários anos entre os quais se pintaram várias linhas entrecruzadas por Vitoria, todas carregadas de emoções fortes. Cores brilhantes numa música que é capaz de entrar nos ouvidos de fininho, como de rompante: entre o delicado “Beijo”, passando pela incontrolável “Hallway” e a orelhuda “Não me o dês”, aqui, encontramos temas de uma artista a explorar-se enquanto cavalga territórios pop e rock sem receio de se ouvir tanto em português como em inglês. Afinal, o disco intitula-se “Homónimo”, para a libertar de uma linguagem única. Sem ironia, eis um vislumbre do que é, e será, “Vitoria Vermelho”.

O álbum foi produzido por Vitoria Vermelho, João Freitas e Gabriel Valente no Estúdio Cedofeita, no Porto, e é agora editado pela Biruta Records. Já se encontra disponível para escuta em todas as plataformas digitais e no bandcamp da editora. Em breve será anunciada a edição física de “Homónimo”.

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