ZDB

Transdisciplinar
segundas na z

em voz alta ~ segundas na z

— com Sallim e Laura Gama Martins + Miguel Abras

seg21.04.2521:30
Galeria Zé dos Bois


© Sallim

em voz alta – sessão aberta de leituras a viva voz: de trechos, textos e histórias que se queiram dar a ouvir a/por quem venha ao pátio do Aquário da ZDB, na noite de 21 de abril, segunda-feira. Os textos não precisam nem devem ser da autoria de quem lê, mas palavras de outras que as disseram – seja qual for a sua duração ou feitio.
Desta vez, desafiam-se as vozes a juntar-se numa leitura a meias (ou mais). O plano continua a ser criar um espaço de escuta onde as vozes (res)soem e se encontrem, com foco no gesto de narrar em conjunto.
Qualquer pessoa pode participar, seja como leitora ou ouvinte. Com início pelas 21h30, até à 1h30, as leituras serão intercaladas pela intervenção musical de Miguel Abras.

O que podem as vozes? Há sempre algo que transborda na palavra que se cita, um corpo que se anuncia. Se o ar é a matéria prima da voz, o som é a matéria que ela gera, um evento que se dá fora de si mas que arrasta o corpo consigo no espaço entre-corpos onde (res)soa e vibra. Como qualquer corpo que se move, a voz é sempre mais de uma, moldada pelo movimento que conduz o ar dos pulmões à laringe tanto quanto pelo caminho entre a boca e o ouvido, as condições acústicas da sala, as expectativas de quem escuta. Negociando os seus contornos no modo como afeta e se deixa afetar, no volume da sua amplificação, do sussurro ao grito. Poderei realmente dizer que esta voz é minha? Talvez ela prometa algo que não pode cumprir – um corpo a tentar ser alguém – uma singularidade impossível. Não é só porque, quando falamos, nunca somos donas das palavras que dizemos, sempre sujeitas a que elas sejam transformadas noutra boca e noutro timbre. É que, no intervalo entre uma palavra e outra, e em tudo o que a voz pode dizer sem elas, já está em curso toda uma expropriação, um perigo de contágio. No seu apelo enigmático e multiplicador, a voz estilhaça a mítica totalidade da presença quando transforma o citável em citado no presente irrepetível da sua enunciação encorporada e respetiva reverberação, frustrando até o mais fiel fonógrafo – há quem diga que o primeiro foi a escrita, mas haverá realmente um sítio onde tudo começa? No fabrico de qualquer origem, a função narrativa de qualquer história é menos sobre o ponto de partida em si do que o caminho para o qual aponta e materializa, e que, de boca em boca, todas as vozes podem transformar.
– Sallim

Contar uma história, ao ouvido, pela beira de uma cama, em sussurro ou projecção, neste pátio, imaginemos. O impacto da se poder inventar e partilhar o que se inventou e esperar que a história ouvida se integre com atenção, que dela se retire o essencial para que ao ser de novo contada se gere um movimento eléctrico de revolução.
A leitura e a passagem testemunha, a acção de contar e a electricidade na recepção, são fórmulas em potência para activar outras possíveis formas de enriquecimento dos sentidos, o seu estímulo, levando os limites a novos desenhos, sempre em expansão.
A imaginação, como exercício de escrita e desenho, é manta reveladora de vontades, de possibilidades, de diferentes e extraordinárias operações que se tornam instrumento imprescindível para activar outras vidas e lugares de liberdade.

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