Dúvidas houvesse que a vinda de Essaie Pas já era virtualmente interessante, trazer de Montreal na bagagem o seu quinto álbum, segundo na DFA e claramente o melhor de sempre, New Path, é um bónus a considerar. Numa evolução que começou há uns bons anos no rock psicadélico, passando pelo minimal darkwave, este duo de produtores Pierre Guerieneau e Marie Davidson, parece ter entrado num túnel hipersónico cuja luz ao fundo promete voos ainda maiores e mais complexos.
Marido e mulher na vida real, jogam a sua cumplicidade terrena em áreas passionais luminosamente alienígenas e futuristas, inspirando-se densamente na obra de Philip K. Dick, mais concretamente em A Scanner Darkly, para criar um manifesto digital imenso acerca de distopias próximas atomizadas por ultravigilância, hiperparanóia e ciberdroga.
Música que nos irrompe adentro de forma confrontacional, gélida e lânguida por vezes, assente a espaços em spoken word reverbado, binário e artificial, e descaradamente veloz por outras, em viagens sofisticadas, tech, de contrastes ásperos e industrais entre microestações, de neurónio em neurónio. Não há mais nada a dizer sobre faixas como ”Les Aphides” e ”Substance M”, futuros clássicos predestinados a nascer no futuro, bombas de excitação sonoras em autoestradas pulsantes sem limite de velocidade, nem de dados.
À medida que se ouve também ”Complet Brouillé” ou ”Les Agents Des Stups”, é tempo de Marie abrir o livro literalmente, com a sua voz doce polvilhada por radioatividade e microdoses de humor negro e neurótico, em páginas sonoras de incursões à persona de Bob Arctor, o viciado em Substance D tornado Bruce que completa e encerra o tema título ”New Path”, com uma voz de um alter-Hawking, planando feericamente no cosmos, a deixar-nos conselhos de Narcóticos Anónimos. Algures no cosmos, algures aqui. NL
