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Gala Drop – Lançamento de ‘Amizade’ ⟡ Chima Hiro

dom02.10.2219:00
Galeria Zé dos Bois


© Sara Graça
Chima Hiro
João Pedro Fonseca (Desenho de Luz)

Volvidos oito anos desde II, muita coisa mudou na vida. Na nossa, na vossa e na dos próprios Gala Drop. Muitas vezes, sem que tomássemos conta disso, com aqueles dois anos de uma existência semi-latente a deixarem uma neblina persistente e a gentrificação predatória a mudar o panorama da Lisboa que criou e dá poiso e vivências à banda desde sempre. Um sempre que chega praticamente a uma década e meia, com várias mutações pelo caminho a ditarem momentos de pausa, reflexão e novas perspectivas de um som que também tem sido ele mutável ao seu próprio ritmo e agenciamento, pautado desde 2009 pelo núcleo duro constituído por Afonso Simões e Nélson Gomes. Com Rui Dâmaso a transitar de II, os Gala Drop são agora um trio, após as saídas de Jerry the Cat e Guilherme Canhão. Com essa triangulação a trazer um enfoque para música da banda, Amizade faz jus ao nome numa celebração com vista panorâmica mas nunca dispersas sobre a cartografia que a banda tem explorado com singular e já patenteado entender e jogo de cintura. A hipnose e expansividade do krautrock, o espaço transviado do dub, a pulsação da house, os sonhos da baleares, polirritmias de várias latitudes e a sintonia comunitária de encontros e epifanias reais e ainda possíveis na cidade.

E todo esse vasto campo de conhecimento reaparece aqui novamente, sempre premente a novas inspirações e guinadas, mas de forma ainda mais sucinta e canalizada a uma música que, hoje em dia, podemos apenas entender como de Gala Drop. Com o trabalho em trio a potenciar naturalmente essa mesma direcção, numa residência promovida pelo gnration em Braga que possibilitou à sua gravação, Amizade revela todo o potencial psicadélico da banda em sete malhas concisas, de labor minucioso mas nunca forçado, feitas de cascatas de sintetizador, linhas de baixo líquidas, muita percussão em linha ténue entre o orgânico e o electrónico, ecos, guitarras pausadas e um sentimento esfuziante que irradia. Tudo é revelado. Nunca a banda tinha sido tão descaradamente dubby quanto em ‘Dub da Meia Noite’ e ‘Areal Dub’ nem alinhado momentos históricos distintos do hardcore continuum de UK – pianola em euforia rave e cut up vocal – num slow burner tão memorável quanto ‘Monte do Ouro’. Ou, deixando de lado o conluio com Ben Chasny em Broda, liberado as guitarras numa torrente de distorção como na lanzeira narcótica de ‘Guitarra Voadora’. ‘Amizade’ indicia tudo isso como escapismo feliz e no final, ‘Raio’ transmuta a meditação rítmica do dubstep original num crescendo cósmico funky. Abraços. Porque estamos cada vez mais necessitados de ligações, e apesar de toda a névoa que cobre estes tempos, podemos pelo menos por agora, celebrar em conjunto. Este álbum está aqui para isso.

BS

Gala Drop

Os Gala Drop tiveram origem há cerca de uma década em Lisboa, pelos membros fundadores Nelson Gomes e Tiago Miranda, dando-se a conhecer há altura em concertos na Galeria Zé dos Bois e tendo encetado uma tournée europeia fazendo as primeiras partes das bandas norte-americanas Excepter e Gang Gang Dance. Em 2006 o baterista Afonso Simões actualizou a banda para um trio e o som ao vivo da formação expandiu-se consequentemente, tornando-se mais rítmico, espacial e luminoso.

Em 2008 é lançado o seu album de estreia homónimo, no selo editorial da banda Gala Drop Records, materializando a proposta original que tinham criado de percussão em tempo real, processamento de efeitos, samples e sintetizadores, onde os ritmos afro-latinos e os trabalhos visionários de Lee Perry, Arthur Russell, Jon Hassell ou dos Can teriam informado uma cosmologia musical especial e convicta de que o era.

O guitarrista Guilherme Gonçalves juntou-se à banda no ano seguinte, e sucedem-se experiências ao vivo marcantes, como o concerto no Anfiteatro ao Ar Livre da Fundação Gulbenkian, inserido no programa Próximo Futuro, a tour europeia com os Six Organs of Admittance, convites para a primeira parte dos Sonic Youth no Coliseu dos Recreios e de Panda Bear, dos Animal Collective, para tocar na sua noite num festival na praia de Governor’s Island em Nova Iorque.

Em 2010 é editado o EP ‘Overcoat Heat’, na nova-iorquina Golf Channel Recordings, um registo admirável da progressão criativa da banda e da coesão estética que a ‘banda real’ oferecia a fazer uma música de dança que um jornalista descreveu como ‘rainforest futurism’. Seguiram-se novas mudanças no elenco do grupo; a partida de Tiago foi colmatada pela entrada do baixista Rui Dâmaso, enquanto que um encontro casual com Jerry the Cat, um ilustre nativo de Detroit agora residente em Lisboa, que tocou ao vivo com os Parliament, Funkadelic e John Lee Hooker na década de 70, e mais tarde na de 90 colaborou em discos e ao vivo com luminários do Techno como Derrick May, Theo Parrish ou Moodyman, leva a que este ingresse como percussionista.

Dois anos depois surge ‘Broda’, na editora do grupo, um 12’’ colaborativo com Ben Chasny (Six Organs of Admittance), muito bem recebido pela crítica e pelos fãs, que a banda encarou como um saudável desvio da rota pelo desafio criativo que constituiu, tendo ensaiado e gravado em estúdio na capital portuguesa durante uma semana com o reputado guitarrista. No mesmo ano de 2012 embarcam em nova tournée europeia e terminam a digressão com uma data memorável no clube Lux Frágil, em Lisboa, numa noite programada pela banda, em que convidam os Hype Williams, Tropa Macaca, Brian DeGraw e Kyle Hall para abrilhantar a festa. Correm também o país de lés a lés, mais do que alguma vez o tinham feito, e embarcam numa breve tour europeia e do Reino Unido com os Rangda (Chris Corsano, Ben Chasny e Sir Richard Bishop).

2013 foi um ano encarado como de abnegada entrega ao trabalho de composição e produção do novo e soberbo disco ‘II’, que no seguinte chegou às lojas. Considerado pela banda como o verdadeiro longa-duração sucessor do álbum de estreia, ‘II’ foi marcado desde logo pelo facto de Jerry the Cat cantar em vários temas e de como isso contribuiu para aprimorarem uma vez mais a identidade autoral dos Gala Drop.

Percorreram o nosso país de lés a lés nos anos seguintes como nunca antes, fruto do sucesso do disco e airplay nas rádios, intercalando com datas na Europa em festivais e convites para espectáculos especiais como o desafio ‘100 Ra’ no Teatro Maria Matos, em Lisboa.

Chima Hiro

Chima Hiro é em primeiro lugar uma amante da música. Essa paixão manifesta-se numa procura constante por músicas escondidas nos cantos mais inesperados, vasculhando e explorando os caminhos da dança, bem antes de sonhar tornar-se uma DJ. Em Lisboa tem sido presença habitual em espaços como o Lux Frágil, Damas ou Lounge. Os seus sets abraçam um espectro eclético e refinado, que é tão expansivo quanto surpreendente, um reflexo de si própria, do seu gosto e preferências musicais, que podem ser escutados na Rádio Quântica, East Side Radio, NTS, Rinse FM ou Boiler Room.

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