(…) escrever um texto sobre o meu trabalho seria interessante se fosse escrito por um outro eu. Também, explicitar a minha trajectória, o meu percurso, tentar persuadir-te de que o meu trabalho é importante, vital, até mesmo útil, enfim, encontrar uma justificação válida à existência desta «obra» (a minha vida?) poderia dar-me uma melhor perspectiva na vida profissional. Mas tenho de dizer honestamente que não encontro nenhuma justificação válida para as coisas que fiz nem mesmo para a minha própria existência. Talvez, mais tarde, encontrarei justificações, à beira da morte ou antes de desistir, frente ao absurdo de viver sem perspectiva nem funções nenhumas. Até lá, reivindico o direito total à minha inutilidade profunda e à minha presença inteiramente e interiormente gratuita, que é um insulto à ordem do mundo. Eu sou perfeitamente injustificado e injustificável, inteiramente e interiormente gratuito. Nesta patética revelação esconde-se a minha angústia e a minha liberdade. A única coisa que eu posso dizer com certeza é que meu trabalho é único, porque eu sou único como tu. Talvez o meu trabalho consista simplesmente em partilhar isto contigo. (…)
– Mattia Denisse, Qui suis Je, 2003.
