Podemos pensar nesta noite como uma celebração dos 60 anos desde a aparição desta peça monumental de Tony Williams ou dos 10 anos volvidos desde que esta foi revisitada em duo pelo baterista Gabriel Ferrandini e pelo saxofonista Pedro Alves Sousa num louvor bonito na saudosa galeria de Pedro Alfacinha. Do macrocosmos da sua criação iluminada ao plano microscópico da realidade de uma outra Lisboa que já praticamente não existe, ‘Love Song’ afirma-se, sem necessidade de revisionismos calendarizados, hoje e para sempre uma balada de indelével pertinência e chamamento. Reflectindo as trajectórias de Ferrandini e Alves Sousa ao longo desta década, esta nova evocação encontra os dois músicos já num outro patamar, assumindo a formação em trio, com Hernâni Faustino no contrabaixo, que gravou ‘Volúpias das Cinzas’ desse primeiro e se tornou, na sua sequência, na working band Volúpias. Tendo nesse disco e sua continuação em palco a balada jazz como elemento precioso para a sua vivência, há todo um sentido pleno em abordar uma das mais monumentais peças de amor da história do jazz neste contexto, com a sua melodia eterna passível de inúmeras refracções em vida. Nesta noite, junta-se a este trio Pedro Branco, guitarrista de créditos bem firmados tanto no jazz – ao lado de João Hasselberg ou João Lencastre – como fora dele – de You Can’t Win Charlie Brown ao seu percurso solista -, aqui numa rara aparição ao piano. BS
