Durante as comemorações da última passagem de ano, a Apple Music levou ao espaço noturno londrino, The Cause, algumas ilustres figuras da eletrónica atual. Entre o alinhamento de convidados estava Bjork, reconhecida pela curiosidade infinita em acompanhar as tendências mais vanguardistas do momento. Num set incisivo e penetrante, Mun Sing destacou-se, ao soar mais que uma vez na seleção musical da islandesa. De resto, os dois já tinham partilhado palco num par de atuações, tornando esse vínculo ainda mais sólido. Independentemente do mediatismo resultante destas situações, o novo The Frolic EP já era um cobiçado fruto do ano que se avizinhava. Das colaborações com Iceboy Violet ou Gaika, passando pela energia tectónica do seu duo Giant Swan, há muito que o trajeto a solo se vinha tornando fértil e de impreterível expansão. Portanto, e em abono da verdade, uma natural relação de causa-efeito.
Foi na luta do luto que Harry Wright, identidade real do produtor de Bristol, projetou um álbum complexo e desconcertante – na sua origem criativa e expressão sonora. Inflatable Gravestone advém da tragédia pessoal e percorre uma inevitável demanda metafísica – e material, recuperando escritos e gravações do seu pai e assim desenhando esboços para o disco. O vídeo promocional do tema Waiting in the car capsulou o labirinto de emoções e emprestou um notável atributo visual para a matéria pulsante que aí se escuta. E o que se escuta, não só especificamente nesse álbum, mas na abordagem de Mun Sing, é uma atração magnética pelas possibilidades texturais e sónicas. Talvez mais que a totalidade nas coisas, busca os pequenos e grandes fragmentos que dela fazem parte.
É pela mão da sua Illegal Data que The Frolic vê luz do dia. Adaptando a personagem de Espantalho, do clássico Feiticeiro de Oz, tem vindo a criar concertos de uma insólita natureza conceptual. Nada de novo para quem parece querer revirar as convenções e expectativas de si – e de todos nós.