Músico com uma ligação espiritual já longa a este país, por via de diversas actuações, participação em ‘Broda’ de Gala Drop, uma canção de nome ‘Lisboa’ ou a sentida propagação da arte de Carlos Paredes além por esse Mundo fora, Ben Chasny regressa à ZDB na sua duradoura encarnação como Six Organs of Admittance. Bem aparecido mesmo ao virar para este Século com a sua estreia homónima, Chasny foi e é um dos arautos das músicas livres nascidas desencantadas às histórias da folk em território norte-americano, contando já com uma discografia imensa, quer nesta vida “solitária” quer em bandas tão meritórias como Comets on Fire, Badgelore ou Rangda. Entre o lirismo acústico devedor do fingerpicking e a electricidade celestial, Chasny tem deixado cravada à guitarra uma linhagem única de busca constante pelo sublime, patente ao longo deste trajecto em discos que vão dos instrumentais poéticos de ‘For Octavio Paz’ à contemplação nocturna e psicadélica de ‘Dark Noontide’, ás canções em ascensão de ‘Compathia’, ao devir solar destas investidas no já clássico ‘School of the Flower’ ou ao misticismo latente na aura e nos arranjos de ‘Luminous Night’.

Passados já muitos anos desde o burburinho em torno da “New Weird America” e da comunidade freak/free folk da qual foi uma das entidades centrais ao lado de nomes como Matt Valentine e Erika Elder, Wooden Wand, Charalambides ou Devendra Banhart, Chasny tem continuado inabalável na sua demanda, criando sempre e a seu tempo uma obra que já nada tem que provar, mas que recusa o conformismo resignado da veterania. Já nesta década, este trovador alquímico e meta-guitar hero deixou-nos as paisagens droney e solos cósmicos de ‘The Veiled Sea’ em 2021 e a depuração mais cancioneira de ‘Time is Glass’ para encetar também uma união transcendente da sua guitarra e voz às batidas e texturas percussivas de Shackleton no surpreendente ‘Jinxed by Being’ – que, na sequência de ‘Choose Mortality’ de Flesh & The Dream com Heather Leigh revela este último como músico atento à actual premência de artistas da movida acima mencionada. Visita sempre celebrada, de um dos mais genuínos magos que temos sob este céu. BS

A violoncelista/guitarrista Helena Espvall vem sedimentando um percurso musical rico e diverso, entre a folk, a música experimental e a improvisação livre. Originária da Suécia, viveu vários anos na Philadelphia, USA, e reside em Lisboa desde 2012. Integrou as bandas Espers e The Valerie Project, formou o duo Anahita com Tara Burke (AKA Fursaxa) e colaborou com músicos como Vashti Bunyan, Damon & Naomi, Marissa Nadler, Bert Jansch, Mary Lattimore e Steve Gunn. Gravou dois álbuns em Tokyo com o Masaki Batoh, líder da banda psicadélica Ghost, que foram editados da Drag City Records. Faz parte de Lantana, colectivo de improvisadoras que tem tocado nos festivais Lisboa Soa, Jazz Ao Centro, Coimbra, Jazz 2020, Gulbenkian e Festa do Jazz 2022, e colaborado com Lula Pena. Espvall tem também desenvolvido trabalho em nome próprio, tocou concertos a solo no Out.Fest, Casa do Comum, Lounge, Damas, ZDB e Panteão. Actualmente, é uma figura muito activa na cena improvisada lisboeta, tem colaborado com Norberto Lobo, Vítor Rua, Carlos Zingaro, David Maranha e Sei Miguel, entre outros. Em Setembro de 2020, convidada pela Culturgest, criou uma peça a solo para guitarra acústica, como parte do projecto “Abrindo o Livro dos Sons”, uma homenagem ao compositor alemão Hans Otte. Recentemente, tem gravado e tocado concertos com Tó Trips.